São Paulo, domingo, 9 de julho de 1995
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Zagallo, o adivinho

JUCA KFOURI

Zagallo tem razão em reclamar que a tabela da Copa América foi feita sob medida para o anfitrião Uruguai chegar à final. Para ser coerente, faltou dizer que a Confederação Sul-Americana agiu como a Fifa na última Copa, quando a tabela foi feita para o Brasil chegar até o último jogo sem ter pela frente seleções como as da Argentina, Alemanha e Itália.
Porque, sem desmerecer a conquista do tetra, a vitória brasileira se impunha nos EUA como a derradeira chance de manter forte o esquema Havelange/Teixeira.
João Havelange sempre argumentou para os desconfiados europeus que a prova de sua lisura era o fato de o Brasil, seu país, não ter vencido nenhuma Copa na gestão dele. Guardadas as devidas proporções, trata-se do mesmo argumento do bugrino Eduardo Farah, que alardeia honestidade pelo menos com o jejum do Guarani durante sua administração.
A Copa passada, no entanto, seria o limite. Ricardo Teixeira era o primeiro presidente da CBF a ter uma segunda chance, ele que havia se dado mal na Copa-90.
Basta lembrar que com Havelange à frente da então CBD o Brasil ganhou em 1958 e 1962, perdeu em 1966, mas tinha crédito, voltou a ganhar em 1970 e perdeu em 1974, quando o almirante Heleno Nunes assumiu e não teve sucesso em 1978.
Depois, já na CBF, apesar de ter sido o melhor presidente da história da confederação, o empresário Giulite Coutinho também não foi feliz em 1982, cedendo seu lugar ao cartola Otávio Pinto Guimarães, que fracassou em 1986.
Em 1994, portanto, era vencer ou vencer. A derrota significaria o fim de Teixeira e do sonho de perpetuação de um esquema fortemente abalado internacionalmente.
O tetra era, pois, uma imposição e veio até com uma bela ajuda do árbitro da Costa Rica (?!) na partida contra a Holanda, quando dois gols brasileiros foram fortemente suspeitos -o de Bebeto, com Romário em posição de impedimento, e o de Branco, que não só não sofreu a falta que originou o gol como, além disso, fez duas faltas imediatamente antes.
Mas, enfim, nada que o Brasil já não tivesse sofrido antes, sem se dizer que uma Copa decidida nos pênaltis, e com o adversário chutando o último nas alturas, estará sempre quase acima de quaisquer suspeitas.
Mas o bem informado e bem relacionado Zagallo, que invariavelmente tem razão, desde bem antes da Copa garantia inabalável que o Brasil seria tetracampeão. Acertará com o Uruguai?

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