São Paulo, domingo, 9 de julho de 1995 |
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EUA sofrem "brasilização", diz autor
DANIELA FALCÃO
Essa é a opinião do jornalista americano Michael Lind, 33, que acaba de lançar um dos livros mais polêmicos do ano nos EUA, ``The Next American Nation" (A Próxima Nação Americana). No livro, ou ``manifesto" como prefere chamar, Lind diz que a integração racial nos EUA está mais consolidada do que nunca e que o grande risco que o país enfrenta agora é o de virar um Brasil. ``Sem nenhuma ofensa aos brasileiros. Mas estamos passando por um preocupante processo de brasilização, com um sistema de classe sociais cada vez mais desigual e tirano", disse Lind em entrevista exclusiva à Folha. O jornalista -que é editor-sênior da revista ``The New Republic"- provocou a ira de multiculturalistas e democratas-universalistas de uma só vez ao afirmar que a questão racial nos EUA é ``assunto superado". ``Eles insistem em afirmar que os EUA não são uma nação. Claro que somos. Sempre fomos e continuaremos sendo. A pergunta que temos que fazer não é se somos ou não uma nação, mas que tipo de nação queremos ser", disse. Para evitar a brasilização dos EUA, Lind também propõe soluções pouco ortodoxas e polêmicas. ``Temos que limitar a imigração de gente pobre e taxar as mercadorias importadas de países do Terceiro Mundo." Só assim, acredita Lind, o salário dos americanos vai parar de cair e a tendência de empobrecimento da camada economicamente menos favorecida será revertida. Leia a seguir os principais trechos da entrevista. Folha - O sr. realmente acredita que a questão racial nos EUA esteja superada? Michael Lind - Claro. Não que os conflitos tenham acabado, mas o fato de o país ter várias etnias não é mais um problema. A TV homogeneizou os costumes. Até as diferenças de sotaque, que sempre foram fortes, estão diminuindo. As divisões não são mais de raça, mas de classe social. Folha - O sr. não acha que o país pode sofrer um processo de balcanização, como temem os democratas-universalistas? Lind - De maneira alguma. Eles acham que o fato de haver cada vez mais imigrantes pode fazer com que o país sofra uma divisão interna, com língua, religião e cultura própria. Isso é impossível. Mesmo os grupos de imigrantes mais fechados, como os chineses, se integram à cultura americana cedo ou tarde. Os pais podem ter dificuldade em falar inglês. Mas os filhos não. Folha - Apesar disso, o sr. defende a limitação da imigração. Lind - Meus motivos são outros. Não acho que deva haver restrições à imigração de uma determinada etnia só porque eles são muito numerosos. O que defendo é um limite na entrada de imigrantes pobres. Prefiro mil vezes a entrada no país de um cubano com nível universitário do que a imigração de um irlandês branco semi-alfabetizado. Folha - Por quê? Lind - Porque são esses imigrantes não-qualificados que têm sido responsáveis pela queda do poder aquisitivo dos americanos. As empresas estão contratando mão-de-obra imigrante cada vez mais desqualificada para pagar menos. Isso é um perigo. É uma ameaça a tudo que já conquistamos. Se essa tendência não for revertida, os EUA deixarão de ser um país desenvolvido. Estamos em cima de uma montanha, mas o abismo está bem na nossa frente. Folha - O sr. acredita que os EUA possam virar o Brasil? Lind - Com toda certeza. É simples: se os salários continuarem caindo, não haverá mercado interno para os produtos americanos. Sem mercado, toda a nossa economia entra em colapso. A classe média-alta, que é majoritariamente branca pode sair ilesa dessa crise. Mas para a classe baixa, formada tanto por negros quanto brancos, o resultado será catastrófico. Sei que muita gente acha absurda minha advertência. Mas é um perigo real, que está mais próxima do que se imagina. Folha - O sr. já foi ao Brasil? Lind - Visitei São Paulo e Rio de Janeiro como turista e não estudioso. Tenho mais conhecimento a respeito do México. Folha - O sr. defende que, para evitar a brasilização, será preciso taxar os produtos que os países subdesenvolvidos exportam para os EUA. Por quê? Lind - Porque a importação desses produtos também tem contribuído para a queda dos salários americanos. Como nos países do Terceiro Mundo os salários pagos aos operários são muito baixos, os produtos de lá custam menos do que os equivalentes nacionais. E para não perder a competitividade, as indústrias americanas terminam reduzindo também os salários de seus empregados. Folha - A taxação colocaria em risco o processo de integração comercial entre as Américas. Lind - O mercado consumidor que interessa aos EUA é o da Europa, dos países desenvolvidos. Texto Anterior: Oposição nega apoio a Salinas Próximo Texto: Brasilianista faz críticas a Lind Índice |
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