São Paulo, domingo, 9 de julho de 1995
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País vive crise de auto-estima

ROBERTO DAMATTA
ESPECIAL PARA A FOLHA

É interessante constatar a onda de pensamento pessimista nos EUA. Como se a fase confiante de auto-estima tivesse terminado.
O livro ``The Next American Nation" reflete sucessivas crises de auto-estima (o juiz Clarence Thomas, a filicida Susan Smith, Oklahoma City e O. J. Simpson).
Trata-se de jogar mais combustível na fogueira do futuro dos EUA, hoje um Estado sitiado por alienígenas internos e externos.
Como apreciar o futuro de um país cujo centro é a igualdade e a liberdade como valores radicais?
Como conciliar os princípios do liberalismo com o individualismo e as necessidades sociais? Com o fato de que o país mais rico do mundo continua gerando pobreza?
A resposta não é fácil. É fácil especular sobre o assunto. Desta especulação, vale refletir sobre o contraste feito pelo autor entre balcanização e brasilização.
Para o autor, nada é pior do que isso. O uso da expressão brasilização para exprimir um estado de injustiça social me deixa ferido e preocupado.
Pensemos: se o individualismo e o igualitarismo podem levar à balcanização, nem por isso se pode condenar o ideal igualitário proposto pela democracia liberal.
A hierarquia e a tipificação da estrutura social do Brasil (e da maioria das sociedades) indicam um modo de integração social que tem seus pontos positivos.
Nesses sistemas, conjugamos os opostos e aceitamos os paradoxos da vida com mais tranquilidade.
Seria esse modo de relacionamento incompatível com uma sociedade viável em termos de justiça social? Acho que não.
Pelo contrário, penso que talvez haja mais espaço para que esses sistemas híbridos e brasilizados sejam autenticamente mais democráticos do que essas estruturas rigidamente definidas, nas quais tudo se faz com base no sim ou não.
Afinal, entre o pobre negro que mora na periferia e o branco rico que mora na cobertura, há muito conflito, mas há também o carnaval, a comida, a música popular, o futebol e a família.
Quero crer que o futuro será mais dessas sociedades relacionais do que dos sistemas fundados no conflito e em linhas étnicas, culturais e sociais rígidas.

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