São Paulo, domingo, 9 de julho de 1995
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Crise das Províncias ameaça calma social

CLÓVIS ROSSI
DO ENVIADO ESPECIAL

A Argentina de Menem pode ter se levantado, mas ainda há quem veja nuvens negras. ``A paz social está em perigo", disse quinta-feira o cardeal Raúl Primatesta, arcebispo de Córdoba.
É uma alusão específica a outro ponto quente da conjuntura argentina no momento em que Menem inicia seu segundo mandato: a crise na Província de Córdoba, a terceira mais importante do país, após Buenos Aires e Santa Fé.
A crise provocou na quinta-feira a renúncia do governador, Eduardo Angeloz, no poder há 12 anos.
Se fosse um problema restrito a Córdoba, seria um assunto meramente regional. Ocorre que a maioria das demais Províncias está igualmente falida.
No conjunto, as Províncias tiveram em 1994 um déficit da ordem de US$ 2,7 bilhões. Para 1995, a previsão é de que o déficit chegue a US$ 3,2 bilhões.
O governo central exige que as Províncias façam o mesmo tipo de ajuste implementado por Menem no plano nacional. Ou seja, privatizações, dispensa de funcionários públicos, desregulamentação.
Acontece que o ajuste exigido das Províncias significa ``dispensar pessoal das administrações oficiais, em lugares onde não há fábricas nem alternativas laborais de nenhum tipo", escreve Daniel Muchnik, principal colunista econômico da Argentina.
Consequência, segundo Muchnik: ``Ou as pessoas emigrarão sem rumo ou ficarão alimentando seu ressentimento e protesto".
A constatação empírica de Muchnik ganhou respaldo em recente pesquisa do escritório Graciela Rõmer: de fevereiro para junho, subiu de 10% para 30% o número de entrevistados que acredita em uma explosão social.
Já houve pequenas ou médias explosões. Em Santiago del Estero (dezembro de 1993), Córdoba, Jujuy e Tucumán, no último mês.
É até natural que seja assim: concentra-se no interior a maioria dos 31,8% de argentinos que não têm atendidas suas necessidades básicas (comida, casa, saúde etc).
São os excluídos do modelo ou as vítimas dos governos regionais?
``A renúncia de Angeloz é a prova do fracasso de uma administração que ficou 12 anos no poder", afirma o peronista cordobês José Maria de la Sota. ``Há um compromisso do governo de pagar a dívida externa, mas não um compromisso de solidariedade", diz o velho caudilho Felipe Sapag, 78, quatro vezes governador de Neuquén.
(CR)

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