São Paulo, quarta-feira, de dezembro de
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WALTER RODRIGUES

ERIKA PALOMINO

"Mostro o desfile para clientes, não só para os descolados"
aquilo que a gente imagina da feitura de roupa está lá. Senhoras simples com fitas métricas passadas ao pescoço, cortando tecido e sentadas às máquinas de costura; jovens assistentes andando ocupados, para lá e para cá; moldes em papel dependurados pelas paredes ou dispostos sobre as bagunçadas mesas.
É nesse ambiente que Walter Rodrigues, 35 anos, preserva a tradição dos grandes mestres do tecido. O fazer da moda em seu modo artesanal, manufaturado mesmo.

Proporções essenciais
É por isso que o estilista encarna hoje a imagem do estilista do prêt-à-porter no Brasil. Longe dos modismos, do zunzunzum histérico dos shoppings e das vitrines dos Jardins -ele não tem nem loja própria com sua marca por aí.
É por isso que seu ateliê -de proporções essenciais, sem arrogância ou pretensão- atrai de estudantes de moda a modelos, de fashion victims a madames, de madrinhas a noivas.
Walter Rodrigues é o rei dos casamentos. Afinal, quem mais -fora da rua São Caetano- poderia abrigar com mais adequação e paciência as nervosas moças em busca da imagem ideal para o tal Grande Dia?

Chuva de pétalas
O estilista faz quantas provas for preciso para chegar na silhueta certa. Alfineta, aperta, afrouxa, roda as moças para lá e para cá em frente ao espelho comprido.
Esse procedimento cuidadoso e carinhoso, aliás, é o mesmo das provas de roupa com modelos profissionais em seus desfiles. E os desfiles de WR são sempre acontecimentos de sonho e magia de moda.
A começar daquele no final de 1993, quando pôs muito veludo preto e tule só para mostrar as peças da H. Stern. Todo mundo falou. De quem são essas roupas?
Pouco depois, em fevereiro de 1994, todo mundo se lembrava: Walter Rodrigues fazia, na primeira edição do Phytoervas Fashion, o lançamento de sua coleção com uma chuva de pétalas de rosas. Sensação.
No Phytoervas seguinte, a coleção batizada Branco -com todos os looks em branco -desta vez sob chuva de bolhas de sabão. Quem não se lembra da imagem da modelo Virginia Punko soprando uma delas, na ponta da passarela?
E finalmente, na terceira edição do Phytoervas, em fevereiro, essa sem chuva alguma. Ele fica de uma vez só mais urbano, mais retrô, mais moderno e ainda mais romântico.

Couro e caudas
Põe peças em couro, camisas havaianas com trilha sonora ``Pulp Fiction", peças contemporâneas e usáveis. Do outro lado, encerra ao som de Cole Porter, com vestidos assumidamente inspirados em um ídolo, o mestre americano do tecido Charles James (1906-1978), com suas peças de longas caudas e seus sofisticados planejamentos.
Desfiladas por tops como Alessandra Berriel, Silene Zepter e Paula Mott, mais as atrizes Fernanda Torres e Milena Milena, as obras encheram os olhos do público, arrancando aplausos a cada uma das entradas.
Ganharam a mídia com seu caráter lúdico e se transformaram em objeto do trabalho do top-fotógrafo Miro, que com elas interpretou a cena da foto clássica do fotógrafo inglês Cecil Beaton (1904-1980), outro ícone da elegância, outro ídolo de WR.
Vestidos tão lindos que quem não tem lugar para vesti-los tem é vontade de arranjar. E surpresa: foram todos vendidos. Até mesmo o que pesava 30 quilos, com a barra de veludo bordado num pequeno ateliê no interior do Estado de São Paulo.

Fora do espetáculo
Depois de todo esse sucesso, bomba, bomba, bomba. Walter Rodrigues deixa o Phytoervas. Pediu para sair, para não fazer mais o evento, que nesse período se configurou como o acontecimento da moda no Brasil.
Walter Rodrigues não cabe mais no Phytoervas, originalmente destinado a revelar novos nomes e a consolidar quem já está no mercado ainda sem muita visibilidade.
``Eles não conseguem mais gerenciar o volume de gente que têm que acomodar na platéia, para o evento com características de espetáculo que eles querem", justifica. ``Se faço um desfile, há um investimento. E eu preciso mostrar isso para meus clientes, e não apenas para os descolados que ganham os convites."
A quarta edição do Phytoervas Fashion começa dia 17, com desfiles ainda dia 18 e dia 19 no galpão da Phabrica, núcleo de moda e beleza de Cristiana Arcangeli (dona da Phytoervas), Paulo Borges (diretor de desfiles), Duda Molinos e Mauro Freire, ``beauty-artists".
Desta vez teremos como repetecos só Jorge Kaufmann (sensação absoluta da última edição), Special K (queridinhos da mestra Marie Rucki) e a jovem Annelise de Salles, que estreou mal em fevereiro mas se recuperou com coesa coleção nos desfiles da Rodhia na Fenatec, no início de março.
Os estilistas Alexandre Herchcovitch e Fause Haten, também consagrados no Phytoervas, preferiram, como WR, deixar o projeto.
A hora e a vez de Walter Rodrigues acontece então com seus minutos contados em silêncio, sem alarde.

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