São Paulo, domingo, 9 de julho de 1995
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o outro lado da noite

CRISTINA ZAHAR

O investimento inicial em uma danceteria como a Broadway ou a Toco gira hoje em torno de R$ 1 milhão. O faturamento mensal pode chegar a R$ 150 mil. "Com a casa sempre cheia, você tem o retorno mais ou menos em um ano e meio", avalia Carmo. Todo ano ele renova a decoração da Overnight. A última reforma, no Carnaval do ano passado, consumiu cerca de U$ 350 mil.
Mão dupla
Apesar da distância, gente habituada aos Jardins já migrou para esse outro lado da noite, e vai dançar nas zonas norte e leste. "É possível roubar esse público. Muitos frequentadores dos Jardins vão à Twists e à Ocean Drive. Na verdade, existe um trânsito de mão dupla: morador da zona leste vai para os Jardins e vice-versa", atesta William Crunfli.
A diretora de arte Antonella Namorado, 30 anos, é um exemplo que confirma essa teoria. Ela detesta as casas noturnas concentradas na zona sul: "Acho careta, as pessoas são chatas, se vestem mal e têm um sotaque paulistinha irritante".
Desde que conheceu a Overnight, Antonella não arreda pé da Mooca. "As coisas são mais sinceras nas casas da periferia. A pista é `quente'. As pessoas são espontâneas e vão para dançar e não para se exibir."
"Ninguém aguenta mais"
Sotaques e generalizações à parte, o esgotamento de algumas casas do circuito consagrado -leia-se zonas sul e oeste da cidade- foi percebido pelo público e por empresários da noite. Tanto que oito sócios, entre eles José Victor Oliva, Ricardo Amaral e Arthur Briquet, se voltaram para a Mooca.
Lá, estão construindo uma casa de eventos que absorveu US$ 2 milhões e deve ficar pronta em outubro. Parte das instalações aproveita as ruínas do Moinho Santo Antônio, construído por italianos no início do século.
"O pessoal dos Jardins quer sair de lá. Ninguém aguenta mais a Franz Schubert e a Henrique Schaumann", justifica Oliva. Ele diz que as pessoas já estão procurando novos lugares como o Paxá, de Campinas, ou a Reggae Night, de Santos. "Enche o saco passar a noite dentro do carro, em congestionamentos". Oliva, que vendeu sua participação no Gallery, é dono do Banana Banana (na avenida Nove de Julho) e do Resumo da Ópera (no shopping Eldorado).
Pesquisa
Essa tendência de buscar alternativas de lazer foi captada por recente pesquisa da Toledo & Associados, feita junto a 441 moradores de vários bairros e que frequentam a noite.
"São Paulo é rica em lazer, mas o conceito está errado. O grau de ocupação dos Jardins e da Vila Madalena é tal que provoca um nível insuportável de congestionamento. Por isso, as pessoas da zona sul e oeste estão indo para o ABC ou Campinas", diz Francisco José de Toledo, diretor-geral da empresa. Segundo ele, os Jardins têm que se renovar para manter o público. "Quem sai à noite está sempre buscando buscando uma novidade", afirma.

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