São Paulo, domingo, 9 de julho de 1995
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o outro lado da noite

CRISTINA ZAHAR

Os Jardins perdem o monopólio da noite e algumas casas noturnas, longe do miolo do barulho, já estão arrombando a festa.
Na zona leste, área que compreende 31 distritos, vivem 3,6 milhões de pessoas, que representam 37% da população paulistana. Se a região fosse uma cidade, seria a terceira do país em população, atrás de São Paulo (9,6 milhões) e Rio (5,5 milhões).
É nessa região que discotecas como Overnight e Toco, com capacidade para abrigar em uma só noite 1.500 e 3.500 pessoas, vivem lotadas, mesmo no domingo. Há outras, como Sunset (2.000 pessoas) e Projeto Radial (5.000), voltadas especialmente para o público black, que vivem abarrotadas.
Esses quatro centros de sucesso mais a discoteca Twists, em São Caetano do Sul, e a Ocean Drive, em Santo André, formam o império dos Crunfli: quatro irmãos que dominam a cena noturna alternativa aos Jardins há mais de 20 anos. De origem síria, o quarteto iniciou com a Toco, há 23 anos.

Bailinhos
Tudo começou quando William, o mais velho do clã, formou com amigos uma equipe que organizava os bailes de formatura dos colégios da Vila Matilde e arredores.
Surgia a Equipe Toco, que mais tarde daria lugar à danceteria Toco. O negócio cresceu e William foi arregimentando os irmãos.
Ricardo, 26 anos, hoje gerente e um dos disk-jockeys da casa, começou como iluminador e bilheteiro. Outro irmão, Carmo, 35 anos, também passou pela Toco antes de abrir sua própria casa, a Overnight, na Mooca: cuidava do som e gerenciava a boate. O quarto irmão, José, 31 anos, seguiu o mesmo caminho e hoje é sócio de William na Twists.

Enfrentar o preconceito
A longevidade da família Crunfli no negócio da noite mostra que apostar em lazer na zona leste também pode ser uma boa opção.
O segredo? "Só dá certo para quem investe na casa, no som e promove shows. Os frequentadores da zona leste não têm muito dinheiro, mas são bem-informados e exigem qualidade", explica William.
Carmo faz coro: "Empresário que investe na zona leste é corajoso, porque aceita enfrentar o preconceito. Por isso, e para chamar público, é preciso fazer algo diferenciado".
Luiz Montoya Samperi, à frente da casa noturna Broadway há 15 anos, diz que sua danceteria é sucesso porque trabalha para o público jovem. "Meu cliente básico tem entre 16 e 22 anos e é de classe média e média baixa. Não tem muito dinheiro para gastar e precisa sair de casa no fim-de-semana", diz. Com cerca de R$ 15, o adolescente passa toda a noite de sábado na Broadway.
Samperi tem uma teoria interessante sobre o seu papel na noite de São Paulo. Ele considera sua boate como uma espécie de ponte entre o jovem do bairro e os Jardins. "O contínuo de banco começa aqui. Quando ganha um pouco de dinheiro, passa a frequentar os Jardins".

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