São Paulo, segunda-feira, 10 de julho de 1995
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Esperança para pacientes

MORTON A. SHEINBERG

As informações sobre o controle da Aids, retratadas na imprensa, apresentam considerável variabilidade e nem sempre possuem a profundidade necessária para que o leigo saiba o que está por acontecer. Nos últimos anos, poucas evidências de que está próximo o controle da doença foram obtidas. No entanto, uma série de elementos dão uma nova esperança para pacientes, mesmo aqueles cujo sistema imunológico foi atacado de forma intensa.
Por exemplo: 1) Temos uma sofisticada combinação de antibióticos que reduz a incidência e severidade da pneumonia, meningite e infecções do grupo das tuberculoses. 2) Com a diminuição da reprodução do vírus e a melhora das defesas imunológicas, é possível converter a infecção do HIV de condição fatal para crônica.
Sabemos que o vírus não fica dormente por meses ou anos. Ele se reproduz desde o começo havendo uma reposição das células T que morrem até que, em um determinado ponto, elas se reproduzem em quantidade menor do que o vírus é capaz de lesionar. Medicações como AZT reduzem a velocidade com que o vírus se replica.
Como funcionam essas medicações? Para tal seria preciso saber como o HIV destrói o sistema imunológico. O envelope externo do HIV se liga a superfície da célula T e penetra na célula. As enzimas celulares vão ao trabalho copiando o RNA viral em uma forma de DNA. Esse processo usa uma enzima chamada de transcriptase reversa, peculiar ao HIV.
Uma vez que o DNA do vírus é sintetizado, outra enzima chamada integrase coloca o HIV DNA no DNA normal da célula T. O DNA viral integrado pode produzir o RNA viral e formar proteínas virais, elementos de um novo vírus. Essas proteínas são colocadas em sua forma correta por uma ``tesoura" viral conhecida como protease. As novas partículas virais podem deixar as células para infectar outras células.
As boas notícias são que existem vários pontos críticos onde é possível bloquear o processo, desde o ponto da transcriptase reversa, até onde os genes virais são integrados nas células T. As primeiras medicações que foram utilizadas são do tipo AZT. Sabemos que o AZT reduz a produção viral durante cerca de nove a doze meses. Após esse período, o HIV começa a escapar da inibição do AZT da mutação de ponto.
Uma informação positiva é de que um vírus resistente ao AZT é sensível a outras medicações como o dDC, dDT e 3TC. Várias doenças crônicas podem ser aliviadas pela combinação de medicações onde a meta não é cura, mas uma forma de prolongar a vida.
Uma área a ser desenvolvida é a da terapia genética. O progresso nesse setor é tão grande que terapêutica genética para HIV no homem é uma possibilidade não muito distante. Na próxima década acredito que a pessoa infectada irá viver bem e por longos períodos.

MORTON A. SCHEINBERG, 50, doutor em imunologia pela Universidade de Boston, é livre docente em imunologia pela USP.

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