São Paulo, segunda-feira, 10 de julho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O Real, um começo

ABRAM SZAJMAN

Se o país pretende modernizar-se, terá de pagar os custos devidos para atingir esse objetivo.
A começar pela pressão gerada por uma economia centralizada que promoveu, a ferro e fogo, a substituição das importações, terminando nos problemas criados pela rigidez da Constituição de 88.
Essa rigidez é responsável por substanciais entraves à política de privatização. Ela posterga o prazo de liberação do Estado para cumprir sua função de agente competente nos segmentos em que sua ação é cada vez mais reclamada.
Esse tema foi amplamente debatido em exposição que fiz, como presidente da Federação do Comércio do Estado de São Paulo, em reunião plenária da Associação Comercial de São Paulo, a convite de seu presidente, Elvio Aliprandi.
A questão debatida por meus colegas da ACESP e da FCESP centrava-se numa simples pergunta, que merece várias interpretações: ``O Plano Real deu certo?"
A resposta prontamente me ocorre: ``O Plano Real está dando certo".
Mas não se pode confundir a rigidez do controle monetário, observada nestes 12 meses, com um objetivo maior, que é o de pôr fim ao processo inflacionário e criar condições para que a economia do país ingresse numa era de desenvolvimento sustentado.
Portanto, o Plano Real deve ser compreendido como o início de um processo de longo prazo, que não se esgota no aperto creditício e na elevação da taxa de juros.
O Real carrega, todavia, em seu bojo, o problema de promover o enxugamento do Estado, que, por ter cumprido o papel centralizador durante décadas, se transformou em considerável consumidor e em enorme empregador da economia do país.
Nunca será demais lembrar que, depois de pagar o preço da excessiva proteção a todos os projetos de substituição das importações, a sociedade será chamada a pagar uma nova fatura: quando o porte do Estado diminuir, o país terá encolhido o tamanho de sua economia.
Em outras palavras, o processo de modernização, que conduz à diminuição da ação do Estado, leva, também, a uma situação recessiva, ou seja, uma nova cobrança que ficará em aberto. A conta de remodelação do Estado brasileiro terá de ser paga no mínimo duas vezes.
Considerando o plano um processo de longo prazo, que tenha o objetivo de diminuir o ``custo Brasil" para estabelecer um novo sistema de manutenção do Estado nacional (e, por inclusão, tratar das atividades no presente praticamente abandonadas).
Devemos aceitá-lo como um ciclo que vai ter um custo e não será encerrado em curto espaço de tempo.
Acresce que, num processo de contenção inflacionária, o empresariado não poderá repassar para o consumidor qualquer expectativa de aumento de preços.
Portanto, o empresário terá de investir em produtividade, evitar endividamento, reduzir custos, manter estoques baixos.
O ajustamento do Estado às novas condições, que deverão viabilizá-lo futuramente, criará circunstâncias difíceis para todos os segmentos da economia, devido à queda da atividade econômica, como efeito do ajuste fiscal.
Os próximos meses serão difíceis, mas repletos de possibilidades. A crise não é igual para todos.
Muitas empresas prosperam, mesmo na crise. O segredo consiste em preservá-las, sem gorduras, mas com investimentos que se fizerem necessários, principalmente em produtividade.
Quando o plano Real tiver acertado, de uma vez por todas, a situação do porte final do Estado nacional, haverá um grande surto de desenvolvimento, porque a sociedade estará com liquidez suficiente para investir em suas próprias necessidades. Quem viver, verá.

Texto Anterior: Cuidado com os economistas
Próximo Texto: Mais lições de um empreendedor
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.