São Paulo, segunda-feira, 10 de julho de 1995
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Idiota ou otimista?

GILBERTO DIMENSTEIN

Qual a diferença entre o otimista e o idiota? O idiota marca prazo para suas previsões. Vou arriscar, hoje, fazer o papel de idiota.
No domingo passado, escrevi aqui que, apesar da vergonhosa dívida social e da lentidão oficial em enfrentá-la, nunca estive tão satisfeito com o país; nos meus 38 anos, jamais vivenciei um período tão longo de crescimento, inflação, democracia e governo estáveis.
Hoje escrevo que, apesar de tudo, além de satisfeito, nunca estive tão otimista. Estou cada vez mais convencido de que o Brasil sobrevive aos desafios do Real, consegue estabilizar os preços e manter um crescimento. Vejo um número cada vez maior de empresas estrangeiras dispostas a investir aqui -não deve ser, imagino, por alguma estranha vontade de jogar dinheiro fora.
Meu otimismo, entretanto, não está sustentado apenas nas perspectivas econômicas. Mais importante, aliás, muito mais importante, é a gradativa consciência de que o grande salto brasileiro passa pelo investimento em ensino básico. Isso reflete a convicção em grupos empresariais de que a prosperidade econômica depende de estímulo à cidadania.
A situação, hoje, é catastrófica, dificilmente poderia ser muito pior. O professor é pisoteado e humilhado diariamente. Pela primeira vez, entretanto, avoluma-se a unanimidade nacional em torno do ensino básico -muito pouco, porém, foi feito, diga-se, em nível federal, estadual e municipal.
Mas espalham-se experiências em muitos municípios, procurando a valorização do professor e do aluno, passando pelo envolvimento da família e reestruturação dos currículos.
Cidades como Santos, Campinas, Ponta Grossa, passando pelo Distrito Federal, distribuem auxílio às famílias que mantenham seu filho na escola. Em Salvador, aprovou-se projeto de renda mínima que segue a mesma rota.
Razão do meu otimismo: caso se mantenha uma taxa de crescimento com inflação baixa e, ao mesmo tempo, invista-se mais e melhor na educação, em menos de uma geração o Brasil estará com a cara diferente.
Até lá, óbvio, ainda vamos ter de enfrentar muitos obstáculos, tombos e pancadas -mas vai valer a pena.

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