São Paulo, quarta-feira, 12 de julho de 1995
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Zagallo continua mal acompanhado

ALBERTO HELENA JR.
ENVIADO ESPECIAL A RIVERA

Estou quase cochilando no saguão do hotel, onde está concentrada a seleção, aqui em Livramento, quando desperto assustado com o trovejar de um repórter de rádio, enviando sua mensagem ao Brasil. E a mensagem é a seguinte: toda a crítica esportiva presente aqui achou que o Brasil jogou mal contra o Peru, menos Zagallo.
Zagallo, portanto, está só e mal acompanhado, por uma consciência falsa e dissimulada que lhe sopra absurdos, tais como o Brasil ter jogado bem contra o Peru.
Pouco antes, o decano das coberturas da seleção brasileira, o jornalista carioca Oldemário Touguinhó, havia-me confessado que, no fim do jogo, um gaúcho de bombachas e tudo foi peremptório em seu ouvido: ``Tem que pôr Jardel nesse time, tchê!" Imagino que os tricolores aí de São Paulo uivam por Bentinho, os lusos suspiram por Paulinho, quem sabe o Flávio Guarujá, os corintianos clamam por Viola (ou será Tupãzinho?). Só os palestrinos calam-se na esperança de Nílson marcar o primeiro gol no Parque Antarctica para entrarem no coro.
Não sei se é verdade que a imprensa brasileira aqui não gostou do time. Os poucos companheiros com quem conversei, depois do jogo, criticaram, sim, o nosso segundo tempo, até a conquista dos gols, mas exaltaram o primeiro, quando nossos meninos deram uma exibição de gala. Em todo caso, apresso-me em quebrar a plúmbea solidão de Zagallo desenhada pelo repórter trovejante, postando-me de imediato ao lado do técnico brasileiro. Zagallo, portanto, já não está só, embora continue mal acompanhado.
Afinal, fiquei encantado com aquele primeiro tempo insinuante, veloz, criativo, protagonizado pela garotada que está assumindo seu lugar no time, sob o comando de Dunga, no meio-campo.
É bem verdade que o time saiu de campo, no intervalo, sob vaias da acanhada torcida que se arrisca a ir ver esta Copa América no estádio de Rivera.
Dizem que a voz do povo é a voz de Deus. Vai ver que é por isso que as hordas do anjo torto resistem há tanto tempo. Ou, então, a voz do povo é simplesmente a voz do povo, que, às vezes, ressoa desafinada como a do nosso trovejante repórter de rádio.

Leandro, que é sempre o primeiro a entrar no meio-campo da seleção, está desempregado. Disse-me ele que o Vasco colocou seu passe à venda, sem mais aquela. Volante sóbrio, com raro senso de colocação em campo, mais hábil do que seus pares na posição, dono de prodigioso fôlego, seria uma dádiva para qualquer time brasileiro. Como, por exemplo, o Flamengo, tão carente de craques no setor. Quem sabe?

Juninho falando ao telefone com sua mãe, televisão ligada no Fantástico. No ar, seu pai, Osvaldo, dizendo que Juninho não sabe marcar gols. Juninho dá um tempo para ouvir. Em seguida desabafa no telefone: ``Pô, mãe, ói o pai querendo me derrubar!"

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