São Paulo, quarta-feira, 12 de julho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Noite pop une Van Morrison e Faithfull

CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Passada a euforia carnavalesca do fim-de-semana brasuca, o Montreux Jazz Festival entra em sua semana mais pop. A madrugada de ontem foi especialíssima: destacava o irlandês Van Morrison e a inglesa Marianne Faithfull.
Os dois cantores e compositores nem precisaram se encontrar no palco, para mostrarem que possuem almas gêmeas.
Vários fãs perderam parte do show. Não imaginavam que o sorumbático irlandês abriria pontualmente a noite. Todo de preto, com chapéu e óculos que o fazem parecer um sizudo padre cego, Morrison ficou uma hora exata no palco. Quem o visse assim na rua jamais imaginaria que ele é um dos cantores mais carismáticos do pop.
Acompanhado por uma banda impecável, destacando a vistosa vibrafonista e vocalista Tina Marcombe, Morrison provou mais uma vez que nasceu branco por acaso. Seu rhythm & blues soa negro até a última nota.
Só ele teria bagagem para recriar um clássico do pop negro como ``It's a Man's World", em uma versão que não deve nada à de James Brown.
Se Van Morrison parece cantar com as vísceras, a voz de Marianne sai de seu útero. Um vozeirão soturno que reflete com amargura três décadas de mergulho quase suicida nas drogas pesadas e na depressão. Também de preto, com botas até os joelhos e luvas, a ex-namorada de Mick Jagger se mexe todo o tempo no palco, tropeçando em passos de uma dança artificial. Como se quisesse dizer: ``Vejam como eu estou bem".
Ainda assim, a proximidade dos 50 anos não roubou sua beleza e sensualidade. Com um charme tipicamente ``junky", ela acende o cigarro no meio de uma canção e tosse várias vezes, sempre sorrindo. A platéia delira.
Marianne interpretou material de seu novo álbum ``A Secret Life" (Island), que chega em breve ao Brasil. As canções são sobre amor, sexo e muita melancolia. Uma barra pesada emocional que encontra em seu vozeirão grave e no rock pesado da banda completa identidade, como em ``Ruby Tuesday", clássico dos Stones.

O jornalista CARLOS CALADO viaja a Montreux a convite da Warner e da Polygram.

Texto Anterior: Demência organiza melodrama
Próximo Texto: Guerreiro está no sono profundo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.