São Paulo, quarta-feira, 12 de julho de 1995
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Demência organiza melodrama

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

John M. Stahl (1896-1950) é um realizador quase esquecido. Na verdade, costuma ser lembrado sobretudo porque Douglas Sirk realizou "remakes" notáveis de alguns filmes seus, como "Imitação da Vida".
"Amar Foi Minha Ruína" (Globo, 1h) nunca foi refeito, o que deixa o caminho livre para melhor apreciar a natureza do trabalho deste rei do melodrama.
O melô já é, por si, um gênero injustiçado: com frequência é assimilado, hoje, a um sentimentalismo bocó, o que não acontece em seus melhores momentos.
E será preciso aqui ver Gene Tierney, sua paixão, o tipo de paixão que desenvolve pelo marido, para ver como o suposto sentimentalismo desliza, pouco a pouco, para a observação de um comportamento neurótico.
Que é como se pode qualificar Gene Tierney, neste filme. Ou seria possível dizer outra coisa de uma mulher que se joga pela escada para abortar por ciúme do próprio filho que está por nascer.
Ora, é aí que o melodrama assume seu caráter mais radical. Passa do sentimentalismo da proposta para a demência pura e simples. Observa, no homem, aquilo que está além do homem, de sua vontade e de seu controle.
Há mesmo quem prefira a obra de Stahl à de Douglas Sirk. Sirk parece um homem mais sutil, de enquadramentos mais refinados e desenvolvimentos de trama mais contidos, com uma noção mais clara da tragédia. Mas a beleza de "Amar Foi Minha Ruína" coincide, em alguns momentos, com a de sua atriz: é um esplendor.
(IA)

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