São Paulo, quarta-feira, 12 de julho de 1995
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Tentativa de extorsão; Caiman; Laranja madura; Mundo WEB; Posfácio

Tentativa de extorsão
``Lá se vão 39 anos como advogado. Muito vi. Como dizia o saudoso dr. Ulysses nos últimos tempos, tenho a impressão de já ter visto tudo -e o seu avesso. Poucas vezes, porém, nesta longa estrada, me deparei com armação tão torpe, vil, como a estampada ontem na Folha sob o título `Philip Morris denuncia tentativa de extorsão'. O texto não informa que os advogados Ciro Kusano e Clodoaldo Celentano, este diretor jurídico da nominada empresa, compareceram ao fórum criminal na condição de réus e réus de crimes graves; são apresentados ao leitor como vítimas indignadas denunciando um crime cometido pelo advogado dos assistentes da acusação (premiado com uma enorme foto abaixo do título da reportagem). Entretanto, os dois advogados não são vítimas, mas réus; foram indiciados por um delegado de polícia, denunciados por um promotor de Justiça, e tal denúncia foi recebida por um juiz de Direito. Eles são acusados, ou seus companheiros de causa, de cárcere privado, constrangimento ilegal, interceptação telefônica e, finalmente, extorsão. Não prestaram depoimento; foram interrogados, dispensados, inclusive, do dever de dizer a verdade, e sentados não no assento das testemunhas, mas no banco dos réus. Antes, tinham sido indiciados pela polícia, concedido dezenas de entrevistas aos meios de comunicação, enviado correspondência aos quatro cantos do país, por meses. Em nenhum momento ou circunstância mencionaram, denunciaram ou nem sequer aludiram à suposta negociação que eu lhes teria proposto. Nem mesmo quando mais precisavam, para escapar do indiciamento ou da denúncia! Só agora, mais de dois meses passados, aparecem com essa invencionice diversionista, criminosa, sem qualquer fiapo de prova ou evidência que a sustente, com o objetivo de confundir a opinião pública e na vã esperança de obnubilar o arbítrio da Justiça. Acusa-me ainda a dupla -de maneira torta, novamente sem qualquer vestígio de prova- de conluio com o delegado de polícia que presidiu o inquérito, dr. Mauro Marcelo de Lima e Silva. Pois bem: uma das maiores dificuldades do direito é a produção da chamada prova negativa. Para maior azar dos réus, entretanto, não ficarei na contraposição de minha palavra e biografia à deles. Hoje pela manhã falei com um jornalista desta Folha, Carlos Eduardo Alves, meu cliente há pouco, por coincidência num inquérito sob a responsabilidade do mesmo delegado. Carlos Eduardo Alves permitiu-me tornar público seu testemunho de que eu não conhecia nem vim a conhecer o mencionado delegado de polícia nos trâmites de seu caso. Nunca tive com o sr. Mauro Marcelo de Lima e Silva qualquer contato que não fosse telefônico. E, mesmo assim, só depois que o flagrante tinha sido lavrado e os indiciamentos de Kusano e Celentano, feitos. Nada do que afirmaram os dois réus, interrogados pelo juiz, é verdadeiro. Acrescentaram mais crimes à lista dos que já são acusados. Aproveito para registrar que estou representando junto à OAB contra esses dois senhores bem como tomando todas demais providências cabíveis."
Marcio Thomaz Bastos (São Paulo, SP)

``Considero que será inócua a tentativa do advogado Ciro Kusano de desviar a atenção do processo-crime em que é réu, buscando enxovalhar a honra de um dos mais ilustres causídicos e homens públicos de São Paulo, o advogado Márcio Thomaz Bastos."
Miguel Reale Júnior, professor titular da Faculdade de Direito da USP (São Paulo, SP)

Caiman
``A reportagem da pág. 1-8, veiculando matéria ligada à Destilaria Caiman S.A., mais uma vez vincula o meu nome ao que se possa passar naquela empresa, ignorando -por incompetência, desatenção ou má-fé- os muitos esclarecimentos que já levei a este diário acerca de outros injustos e similares noticiários. Ao abordarem a Caiman, no passado, os repórteres da Folha não se preocuparam em citar ou ouvir os seus dirigentes, mas se referiram a mim, embora acionista minoritário sem qualquer interferência na administração da empresa. Desta feita, ouviram o presidente da empresa, mas novamente destacaram o meu nome, inclusive na chamada da Primeira Página. É como se acusar um acionista minoritário da Petrobrás ou do Banco do Brasil, que é apenas um mero acionista, por ocorrências registradas na sociedade anônima, das quais ele não tem o menor conhecimento. Tenho o direito de presumir, portanto, que a insistência da Folha nessa tentativa de transmitir aos seus leitores uma opinião negativa a meu respeito deve-se ao fato de eu ser político, e o propósito é o da desmoralização dos políticos. Digo, repito e reitero: como acionista minoritário da Caiman, nunca tive nem tenho qualquer interferência na sua administração e ignoro as atividades do dia-a-dia da destilaria. Apenas sei, como acionista, que a Caiman, ao invés de devedora, é credora do Banco do Brasil, ao contrário do que afirma a Folha. Em telefonema que dei à empresa, fui informado que sua direção está enviando também hoje carta à Folha, na qual demonstra que a citada reportagem é absolutamente equivocada, incorrendo, como das outras vezes, em conceitos injustos que não correspondem aos objetivos buscados pelo jornalismo da Folha."
Edison Lobão, senador pelo PFL-MA (Brasília, DF)

Nota da Redação - O superintendente do Banco do Brasil no Maranhão, João Carlos de Matos, afirmou ontem à Agência Folha que a Destilaria Caiman S/A ainda é devedora do Banco do Brasil, diferentemente do que afirmam os acionistas Edison Lobão e Antônio Carlos Izar.

Laranja madura
``O PFL e a Rede Globo escolheram o presidente certo para eles: FHC. O presidente está tendo um desempenho inesperado que surpreende o seu próprio partido. Vivas ao Itamar, que o descobriu. Se os militares (Golbery) tivessem percebido isso antes, talvez ainda estivessem no poder. Quem diria? O FHC. O novo teórico (e prático) do neoliberalismo. E o povo segue cantando sem saber por quê: `Tá bichada, Zé, ou tem marimbondo no pé...'."
Jorge Saade (São Paulo, SP)

Mundo WEB
``Sou assinante da Folha aqui no mundo real em Recife. É um enorme prazer contar com a Folha `bits' agora no incrível mundo WEB. Parabéns. Vocês são ótimos. Continuem inovando. Saudações cibernéticas."
Fernando Maia Beca, via Internet (Recife, PE)

Posfácio
``Gostaria de expressar minha indignação com a matéria publicada na Revista da Folha (Posfácio) de 9/7. Tanto imprensa como alguns setores da sociedade ventilam que o PT só faz um ataque ao governo e suas propostas, não apresentando, porém, contrapropostas convincentes. Pois bem, gostaria que o jornalista Caio Túlio Costa respondesse a uma simples pergunta: o que tem feito o governo no campo social (saúde, educação, habitação etc.)?"
Marcio Faveri (São Paulo, SP)

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