São Paulo, quinta-feira, 13 de julho de 1995
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Mais!; Privilégios na alfândega; Philip Morris; Cultura em São Paulo

Mais!
``Li, com preocupação e tristeza, o caderno Mais! de domingo. Os desenhos publicados enrubesceriam até os editores de revistas pornográficas. Não quis nem sequer ler o texto e tirei o caderno de circulação em minha casa. Havia jovens e crianças que estavam em Jaguariúna comigo e, a par de preservá-los de tanta vulgaridade, não quis que a Folha fosse objeto de repulsa. Minha tristeza reside no fato de que as revistas pornográficas são vendidas em invólucros, não havendo o risco de entrarem nos lares brasileiros, a não ser por deliberação de quem as compra, quase sempre preservando, aqueles que necessitam de tal tipo de leitura, seus próprios familiares do `gigolismo fotográfico' que as revistas promovem. A Folha, não. É um jornal fantástico. Em matéria de comentários políticos, análises econômicas, brilhantes articulistas e notícias trabalhadas equipara-se aos melhores jornais do mundo civilizado. Não precisa apelar para desenhos que não exibiríamos em nossa casa, nem os teríamos em quadros, visto que não é esse tipo de imprensa, de `princípios elásticos', que os leitores da Folha desejam. Estou convencido de que há um modelo de ética jornalística que vocês criaram e que necessitam preservar. E não o preservarão se os pais de família principiarem a ter receio do ingresso de seu jornal em seus lares, tendo que proceder prévia censura para que os valores que desejam impor em suas casas permaneçam. Se não tivesse pelo amigo profunda estima e admiração, nada lhe escreveria. Exatamente por admirá-lo e estimá-lo é que me senti na desconfortável obrigação de escrever-lhe, mesmo sabendo que poderei ser mal interpretado. É que a Folha é incomensuravelmente maior que as torpes cenas de coitos sadomasoquistas exibidos no caderno Mais! e essa imagem de jornal digno, ético e sinalizador de bons costumes deve ser preservada."
Ives Gandra da Silva Martins (São Paulo, SP)

``É lamentável a publicação do caderno Mais! deste último domingo com reportagem que atenta e invade tanto a todos os leitores que tenham um mínimo de formação familiar, de bons costumes, e de boa educação social. A `reportagem' é repugnante para todas as famílias que tenham filhos ainda em processo de formação da personalidade, de descoberta da sexualidade, de aprendizado dos primeiros textos de leitura, dos princípios da educação e do bom comportamento, da obediência às normas sociais e da convivência saudável e harmônica em sociedade bem-organizada. É absolutamente surpreendente e inexplicável como a Folha atreveu-se a invadir, tão furtivamente, os lares de seus leitores, sem nem sequer bater à porta para entrar. Esqueceu-se que os jornais são de uso familiar, onde não se espera encontrar matéria tão nociva a determinado tipo de leitores. Por favor responda: O que devo explicar à minha filha de sete anos, em processo de alfabetização, que perguntou-me o que estavam fazendo as pessoas constantes daquelas absurdas fotos da `reportagem'? Será que nenhum pai, redator da Folha, teve a mesma indignação que eu? Será que o redator responsável viu e aprovou a reportagem antes da publicação? Em defesa das crianças e dos bons costumes, as revistas com texto ou imagens de sexo têm invólucro de plástico e recomendação de leitura somente para maiores de 18 anos. Por que o artigo não o tinha? Por que a Folha precisa agredir tanto aos seus leitores? Para incrementar suas vendas? Será profundamente frustrante se a Folha não reconhecer o sério erro que cometeu. A invasão às famílias de seus leitores foi ultrajante."
Luiz Gonzaga Murat Junior (São Paulo, SP)

Privilégios na alfândega
``Com relação à reportagem intitulada `Itamaraty pedia privilégios a alfândega', publicada na pág. 1-11 da edição de 7/7 da Folha, relativa a pedidos de `isenções aduaneiras' e `cortesias de praxe' encaminhados pelo escritório regional deste ministério no Rio de Janeiro, esclareço que os mesmos aplicam-se exclusivamente a altos dignitários estrangeiros em visita oficial ao Brasil. Carece, portanto, de qualquer fundamento que nesses pedidos estejam incluídas personalidades que não se enquadrem nas qualificações acima mencionadas. Informo ainda que o procedimento observado pelo Escritório Regional do Itamaraty no Rio de Janeiro é internacionalmente adotado para casos de visitantes oficiais e suas comitivas."
Vera Barrouin Machado, secretária de imprensa do Ministério das Relações Exteriores (Brasília, DF)

Resposta da jornalista Fernanda da Escóssia - As informações publicadas pela Folha constam de documentos obtidos pelo procurador da República no Rio André Barbeitas. Todo o material foi enviado à Polícia Federal e servirá de base para o inquérito que investiga a existência de privilégios para alguns passageiros na alfândega do Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro.

Philip Morris
``Sobre a reportagem de 11/7 (Dinheiro), sob o título `Philip Morris denuncia tentativa de extorsão', tomo a liberdade de abordar -na condição de presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil- o registro da manifestação de minha absoluta solidariedade a Márcio Thomaz Bastos, um dos advogados mais honrados e competentes deste país. Ainda a respeito do assunto, e tendo em vista conhecer de há muito e de perto a figura do eminente criminalista, não posso deixar de consignar minha indignação em face do conteúdo da notícia, extremamente injurioso em relação ao advogado e eivado de inveracidade."
Ernando Uchoa Lima, presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (Brasília, DF)

``A reportagem (edição de 11/7, que reproduz a versão que réu acusado da prática do delito de violação de comunicação telefônica (`grampeamento telefônico') ofereceu ao juiz criminal que o interrogou, causou-nos surpresa e indignação. Surpresa, pela destacada publicidade que se conferiu à versão oferecida por quem se defende em juízo de uma acusação e que, por isso, não está adstrito à verdade. Indignação, por ligar publicamente o nome do grande advogado criminal Márcio Thomaz Bastos a fatos que não são compatíveis com o seu procedimento ético, moral e profissional."
José Roberto Batochio, advogado (São Paulo, SP)

Cultura em São Paulo
``Depois de dois anos e meio de trabalho intenso, ultrapassamos a marca dos 2.000 eventos mensais na Secretaria Municipal da Cultura. Para o repórter Elvis Bonassa, isso é motivo de crítica. Para nós, de alegria. Mais de 90% dos eventos que realizamos são oferecidos de graça aos habitantes da cidade. Assim, divulgá-los não é `fazer autopromoção', mas garantir que as pessoas possam se beneficiar de um serviço prestado pela prefeitura. O repórter insiste em acusar de `superficial' o trabalho da secretaria. Também insiste em ignorar todas as informações que já lhe demos sobre a sua programação. O prefeito Paulo Maluf nos deu liberdade para definir a política cultural da secretaria, que valoriza a diversidade e busca um multiculturalismo solidário em São Paulo. Ele exigiu somente uma gestão honesta e eficiente, jamais impôs metas como a dos mil eventos mensais. Os mil eventos mensais vieram como consequência natural do nosso trabalho."
Rodolfo Konder, da Secretaria Municipal de Cultura (São Paulo, SP)

Resposta do jornalista Elvis Cesar Bonassa - A imposição da meta de mil eventos foi do próprio secretário, como afirma a reportagem publicada no último sábado, em cumprimento a determinação de Paulo Maluf de conseguir visibilidade pública. Preocupado com acúmulo numérico e sua divulgação propagandística (como a campanha de R$ 533 mil em três semanas), a atual administração descuida de investimentos em estruturas permanentes na cultura da cidade.

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