São Paulo, quinta-feira, 13 de julho de 1995
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Chega de violência

Sempre que perdem a razão os homens apelam para a violência. E, infelizmente, a violência é um traço inextinguível da natureza humana. Ainda assim, diferentes sociedades convivem com diferentes graus de violência. O Brasil chegou já a um ponto extremo, que exige medidas vigorosas para conter a barbárie.
Segundo o Anuário Estatístico do IBGE, as mortes violentas cresceram 43,5% entre 1982 e 1992. No mesmo período, o incremento populacional foi de 20,5%. Só os homicídios ceifaram, nestes dez anos, mais vidas do que o câncer.
Seria fácil atribuir apenas à miséria a responsabilidade pelo aumento da violência no país. As coisas não são porém tão simples.
Nos EUA, por exemplo, o país mais rico do mundo, algumas cidades registram índices surpreendentes de violência. Em Washington a taxa de homicídios por 100 mil habitantes/ano é de 66,6; Detroit, 63; Nova York, 30. Projeções indicam que esse índice na Grande São Paulo será de 48 em 95, menor que o de algumas cidades dos EUA.
Mesmo países consideravelmente mais pobres que o Brasil ostentam níveis de violência inferiores aos nacionais. É o caso, por exemplo, da maioria das nações islâmicas, onde o elemento religioso-cultural -que, além de pregar a não-violência, proíbe o consumo de álcool- tende a reduzir as violações à integridade física dos cidadãos.
Um outro ponto importante relaciona-se à venda de armas. Enquanto nos EUA a venda de armas de todo o tipo encontra muito pouca restrição, na Europa e no Japão há um controle bastante razoável. Resultado: a taxa de homicídios por 100 mil habitantes/ano é significativamente inferior nesses países. Tóquio registra o índice de 1,2; Londres, 4; Paris, 4,2.
Medidas para enfrentar a violência são urgentes. A primeira e mais óbvia é adotar um controle rigoroso para as vendas de armas e investir no combate ao contrabando. A associação entre homicídios e álcool e outras drogas também não pode ser menosprezada.
Mais difícil, mas não menos urgente é o governo e a sociedade civil criarem campanhas que visem a desarmar os espíritos da população. O fato de os brasileiros estarem hoje desenvolvendo uma cultura para a violência não significa que essa tendência não possa ser revertida. A cultura, como diz o próprio nome, é algo que se cultiva, que se desenvolve.

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