São Paulo, quinta-feira, 13 de julho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Longo curto prazo

A redução dos juros nos EUA, de 6% para 5,75% ao ano, teve sequência na decisão do Banco do Japão, que reduziu a taxa básica a meros 0,75% ao ano. No Brasil, os juros básicos são de 4% ao mês, cinco vezes mais do que a taxa anual do Japão. Para as empresas, o custo do capital de giro é ainda maior, cerca de 7% em 30 dias. Trata-se, é óbvio, de uma concorrência insuportavelmente desigual.
Nessas condições, a primeira e mais alarmante pergunta que se deve fazer no Brasil é por que, afinal, reduzir as taxas de juros demora tanto, mesmo face a um alívio nas condições do sistema internacional.
Os economistas do governo têm um estoque de explicações, todas ligadas à urgência do ajuste e à iminência de grandes reformas. Os juros têm estado altíssimos, aqui, sempre por pouco tempo. Esse curto prazo, entretanto, se prolonga há anos, com custos terríveis para a sociedade e para o Tesouro.
A redução dos juros externos facilita o financiamento das contas brasileiras não apenas pelo efeito direto sobre a dívida e os fluxos de investimentos, mas também porque uma economia mundial mais aquecida importa mais, aumentando as chances de reversão do déficit.
Se as condições externas estão mais favoráveis, a política de juros altos que sempre se justificou como necessária para atrair capitais perde muito do seu sentido.
Haverá outros argumentos, como a necessidade de um ajuste fiscal prévio, ou de avanço nas privatizações antes que se reduzam as taxas de juros. Entretanto, o debate econômico brasileiro tem mostrado à exaustão nos últimos meses que juros ``escorchantes" significam também que nem toda a privatização do mundo seria suficiente para pagar a conta que se acumula.
Os juros altos, sempre por prazo curto, estão minando a possibilidade de construir ou mesmo chegar ao longo prazo. Invertendo a célebre máxima do economista inglês Keynes, sob esses juros estaremos todos mortos já no curto prazo.

Texto Anterior: Chega de violência
Próximo Texto: A indústria dos recursos
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.