São Paulo, quinta-feira, 13 de julho de 1995
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`Cowgirls' preferem os peões em Barretos

DAVID DREW ZINGG
COLUNISTA DA FOLHA

Estamos em Barretos, a capital dos caubóis da América do Sul. E os rapazes no Café Havaí já se preparam para debater o 40ª Festa Anual do Peão de Boiadeiro, que está chegando.
O Havaí é o centro nervoso da cidade de Barretos e Barretos é o centro nervoso do mundo dos rodeios da América Latina. Tudo que acontece nesse hermético universo dos caubóis e animais é comentado aqui.
Neste ano, a Festa do Peão acontece de 18 a 27 de agosto, daqui a algumas semanas, e os bons e velhos caubóis no Havaí estão especulando sobre os números da versão de 1995.
A festa começou há quatro décadas no ``Velho Recinto", uma feira de exposições agrícolas no centro da cidade. E, então, a vida de um touro ``wrangler" foi expandida a dimensões de uma superprodução Disney.
A versão de 1995, de acordo com o Clube dos Independentes, deve facilmente ultrapassar a marca do ano passado, com a presença de mais de 650 mil pessoas.
O clube, uma associação dos bons partidos masculinos de Barretos, aplica os lucros (mais ou menos R$ 300 mil) em obras de caridade e melhorias do novo parque, projetado por Oscar Niemeyer.
O interior de São Paulo é repleto de garotas atraentes que cresceram em suas casas, sobre um cavalo. Toda ambiciosa ``cowgirl" prefere um vaqueiro como namorado.
Montar em um touro é o mais macho dos esportes. Necessita de um homem cujo testosterona (hormônio masculino) transborde em seu cerebelo preso a um animal que, pelo tamanho, poderia ser confundido com uma intumescente protuberância.
Um touro de rodeios em repouso é uma ridícula criatura de desenho animado. Ele baba, tem uma forma engraçada e indefinida. Jogue um peão sobre suas costas e a comédia se transforma em tragédia. Ele parte de seu curral girando e se torcendo no ar. O torneio se transforma em um duelo de morte.
Na época da festa, Barretos é a terra prometida para as Jennifers da Rodeolândia. A cidade e o parque transbordam com perigosas e atraentes garotas. Elas chegam das grandes cidades como curiosas turistas.
Muitas garotas nascidas em Barretos migram para todos os cantos do Brasil e do mundo em busca de emprego. A festa é o momento de trazê-las de volta.
Uma dica para os interessados: o melhor é procurar no ``Mary Lou Saloon". Talvez seus esforços tenham sucesso.
Há algo sobre a Festa do Peão de Boiadeiro em Barretos que toca na consciência brasileira. A festa se liga com a imagem que a nação faz de si mesma.
Coragem, perigo e independência parecem se encontrar em agosto, em uma cidade que fica a 438 km da capital de São Paulo.
Como eu sempre digo: ``Não há nada melhor para o interior de um homem do que o exterior de um cavalo."

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