São Paulo, quinta-feira, 13 de julho de 1995
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Festa do Divino reúne sagrado e profano

CLAUDIO FAVIERE
FREE-LANCE PARA A FOLHA

A Festa do Divino, a mais popular manifestação do Vale do Paraíba, é celebrada em datas variadas e tem origem incerta.
Alguns historiadores atribuem à rainha Isabel de Portugal (1271-1336) os primórdios da celebração.
Ela convidava os pobres para iniciar, em seu palácio em Sintra (20 km a noroeste de Lisboa), os votos de Pentecostes, ciclo litúrgico da Igreja Católica que celebra a descida do Espírito Santo sobre apóstolos da última ceia.
O período de Pentecostes, como o próprio nome diz, é de 50 dias após a Páscoa. Neste ano, a data caiu no dia 4 de junho.
É o momento em que vários municípios como São Luís do Paraitinga, Lagoinha, Parati e o lugarejo de Cunha, cujo padroeiro é o próprio divino Espírito Santo, comemoraram a Festa do Divino.
Em Cunha a data da celebração da novena, e a realização da própria festa, foi adiada para este mês, de amanhã ao dia 23.
A preparação da festa se inicia no dia do encerramento da anterior, quando é coroado o ``festeiro". Em Cunha, o ``cargo" é do lavrador José Brás Fiorelli, 72, o ``Zé do Nenê".
O ``festeiro" não ganha nada por sua tarefa. ``É importante esse trabalho porque é em benefício da igreja", afirma Zé do Nenê. Mas, ao contrário do ``festeiro", os outros integrantes da folia recebem um salário mínimo por mês e são quase profissionais.
Na área rural existe ainda o ``carguereiro". É a pessoa que conduz as duas canastras (malas de tábua cobertas de couro) com as roupas, sapatos e objetos dos integrantes do grupo.
Enquanto a folia visita as casas de uma localidade, o ``festeiro" vai na frente a fim de ``dar o sinal do pouso": procurar a casa de algum morador que vai acolher o quinteto e que ofereça o jantar e o almoço do dia seguinte.
Com o ``sinal de pouso", os moradores da localidade ficam sabendo da chegada da folia no final da tarde. É inevitável que todos se dirijam à casa do pouso à noite e, depois da chegada da folia, o encontro vira uma festança.
Não faltam brincadeiras de rua, como o pau-de-sebo, quebra-potes e o porco ensebado (uma leitoa que corre pelas ruas e a população tenta agarrá-la).
E ainda o boi-ximemé (armação de ferro e pano com uma pessoa dentro que corre atrás das crianças) e os bonecos gigantes João Paulino e Maria Angu (de armação de ferro e pano), que as crianças adoram provocar.
Ainda nas ruas, há manifestações folclóricas como a congada, moçambique e o jongo.
A festa se encerra com uma grande procissão e, ao seu final, o ``festeiro" Zé do Nenê passa a coroa e o cetro ao seu sucessor, que será nomeado e conhecido naquele mesmo momento.
E o novo ``festeiro", a partir de então, já começa a organizar a festa do próximo ano.

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