São Paulo, sexta-feira, 14 de julho de 1995
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Cientistas criam novo estado da matéria

DA REPORTAGEM LOCAL

Cientistas do Nist (sigla em inglês para Instituto Nacional de Padrões e Tecnologias), associado à Universidade do Colorado (EUA), conseguiram criar um novo estado da matéria, previsto teoricamente por Albert Einstein e pelo físico indiano Satyendra Nath Bose, há 71 anos.
O novo estado, ainda sem nome, apresenta características próprias, diferentes das dos outro quatro estados já conhecidos: sólido, líquido, gasoso e plasmático (encontrado, por exemplo, em reatores nucleares).
Entre essas características estão as baixíssimas temperaturas e alta densidade do material, já que ele foi conseguido na temperatura mais baixa já atingida pelo homem: 170 nanoKelvin.
Para se ter uma idéia de como isso é frio, um nanoKelvin equivale a um grau Celsius dividido por um bilhão.
Ou seja, o experimento foi realizado bem próximo ao zero absoluto (-273,16oC), a menor temperatura possível, onde todos os átomos de uma dada substância estariam "parados.
Essas propriedades podem ser úteis ao homem. Entre elas, está a superfluidez, que é a capacidade de a substância fluir por um conduto sem nenhuma resistência.
O experimento está publicado na edição de hoje da revista científica "Science".
O artigo introdutório, de Keith Burnett, pesquisador da Universidade de Oxford (Reino Unido), compara a pesquisa à descoberta do "Santo Graal" científico, dado sua importância.
A Folha já havia noticiado o experimento no dia 16 de junho. Naquela ocasião, um porta-voz do Nist se recusou a dar maiores informações, que só seriam divulgadas quando a pesquisa fosse divulgada pela "Science".
Mesmo assim, a Folha conseguiu falar com Mike Anderson, um dos autores da pesquisa, que confirmou a descoberta.
Segundo Anderson, a esta temperatura, os elétrons de um átomo se "reorganizam", o que altera de tal forma suas propriedades que o novo estado se configura.
Diversos átomos passariam a se comportar como um "superátomo" -uma única entidade.
Os cientistas submeteram o gás de rubídio, o átomo escolhido para o experimento, a um esfriamento pela aplicação de raio laser.
Em seguida, eles o submeteram ao processo de "resfriamento evaporativo", onde os átomos mais quentes são retirados, sobrando os mais frios.
Nesse ponto, elétrons do átomo se reorganizam, ocupando um mesmo "endereço" (o "estado quântico" do elétron). Isso contraria as leis aceitas que dizem que cada elétron tem que ter um endereço exclusivo.
Depois que os elétrons mudam todos para o mesmo endereço, o átomo sofre um "colapso".
Segundo Gil da Costa Marques, 49, diretor do Instituto de Física da USP, "nessa temperatura há um número grande de partículas com velocidade igual a zero. Daí a aproximação entre elas".
Eric Cornell, um dos líderes do grupo, afirma que o material em seu laboratório é único no Universo. "A não ser que ele exista artificialmente em laboratório em outro sistema solar", ironiza.

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