São Paulo, sexta-feira, 14 de julho de 1995
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Garotos usam antiinflamatório como droga

CLAUDIA VARELLA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MACEIÓ

Adolescentes que vivem nas ruas de Maceió (AL) estão usando o antiinflamatório Benflogin como droga injetável.
Dois adolescentes que usaram o medicamento na forma endovenosa (aplicada na veia) estão internados na Unidade de Emergência Armando Lages, em Maceió.
J.S.S., 15, teve parte de seu braço esquerdo amputado devido a uma obstrução arterial causada pelo uso endovenoso do remédio.
O outro adolescente -J.A.F., 15- está com parte da perna esquerda atrofiada e teve dois dedos do pé amputados pelos mesmos motivos, agravados por uma infecção adquirida com o uso coletivo da seringa.
O curador de Menores de Maceió (AL), promotor Sérgio Jucá, 40, disse que vai pedir hoje à Secretaria de Segurança Pública a abertura de inquérito policial para apurar os responsáveis pelo uso irregular do remédio.
O diretor-geral da Unidade de Emergência Armando Lages, Dilson Simões, 55, disse que os dois adolescentes são os primeiros casos registrados no hospital do uso endovenoso do remédio.
O Benflogin, um antiinflamatório vendido sem exigência de receita -embora ela devesse ser exigida- nas farmácias da cidade, deve ser ingerido por via oral e não é considerado entorpecente.
Simões afirma que, ``quando se injeta essa substância na corrente circulatória, ocorre a trombose (fechamento) dos vasos. Por falta de sangue na região, o membro atingido apodrece".
Rinaldo Barbosa, 33, diretor-médico do hospital, disse que o adolescente J.S.S. teve um entupimento da artéria que leva o sangue até as extremidades do braço. J.S.S. passou por duas cirurgias, nos dias 7 e 11 de julho.
O curador de Menores de Maceió, promotor Sérgio Jucá, disse considerar ``espantosa" a criatividade dos adolescentes. ``Quem poderia imaginar o uso do Benflogin como entorpecente?"
Mário Pizzanelli, gerente médico da Asta Médica, de São Paulo, que fabrica o remédio, diz que os menores fizeram o equivalente a ``injetar gasolina na veia".
Pizzanelli se colocou à disposição da Curadoria de Menores para ir a Maceió acompanhar o caso dos menores e tentar descobrir o que aconteceu exatamente.

Colaborou a Reportagem Local.

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