São Paulo, sexta-feira, 14 de julho de 1995 |
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Eventos convidam ao debate gay
ZECA CAMARGO
Alguém mais desavisado poderia até achar que a cultura brasileira está aberta para a discussão de temas homossexuais. No paraíso do liberalismo, este seria o momento crucial para se esperar que mudanças na discussão de temas (entre várias aspas) ``tão controversos" quanto a questão gay pudessem aparecer. Qual o quê... Um filme como ``O Padre" (ou ``Filadélfia" ou similares) desperta tanta vontade de incluir a homossexualidade na pauta de discussões sérias quanto ``E.T." abre espaço para a discussão da verdadeira possibilidade da existência de seres de outros planetas. A frenética cultura atual tudo trivializa. Para o bem? ``Angels in America", apesar de uma montagem com vigor enormemente superior à encenação americana, não demora logo a entrar na sonâmbula categoria de espetáculos que ``precisam ser vistos" num certo circuito. É fácil ver o talento dos artistas envolvidos na montagem da peça (que se sobrepõe às dificuldades de adaptação de um texto bem americano e datado) se diluir em comentários vazios de um público que nem se lembra de onde foi jantar depois do teatro. No caso específico de ``O Padre", a reflexão é ainda mais diluída, graças ao grande (e fácil) vilão que é a Igreja Católica. Para não falar na banalidade com que um beijo (homossexual e inter-racial) é tratado em um veículo tão corriqueiro (e importante) quanto um capítulo de novela. Dá até para achar que, no Brasil, esse é o momento para colocar o homossexualismo em discussão. Há apenas algumas semanas, ``autoridades" do universo gay se reuniam no Rio para discutir caminhos -à guisa de chacota e ironia. Parece que esse é um paradoxo constante: expor a questão gay significa torná-la frágil ao ataque. Não obstante, bons produtos culturais afloram na chamada cultura ``mainstream" (da corrente principal). ``Angels in America", ``O Padre", ``O Melhor do Homem" (peça em cartaz em São Paulo), ``As Aventuras de Priscila" -seja o que for. É um pouco demais esperar que essas coisas sejam poderosas no sentido de provocar uma mudança nos préjulgamentos do público. Melhor achar que são apenas fragmentos de uma sedimentação. E esperar para ver no que dá. Texto Anterior: Roteirista de ``O Padre" concorre com a vida real Próximo Texto: Coluna Joyce Pascowitch Índice |
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