São Paulo, sexta-feira, 14 de julho de 1995
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Cartaz da instalação ``Anos Luz", de Marcelo Dantas

MARIA ERCILIA
DA REPORTAGEM LOCAL

``Anos Luz" embriaga público com colagem de cenas de cinema
``Anos Luz" deve ser uma das raras instalações que de fato carregam o espectador através de uma experiência sensorial, em vez de simplesmente constrangê-lo com apelos grosseiros e literais.
A ``feérie" decadente de Marcelo Dantas, que estréia hoje no Centro de Cultura de Belo Horizonte, é um alimento turbinado para olhos e ouvidos.
Imagine 52 losangos de tiras de elástico, formando pequenos ambientes separados mas intercomunicantes, cada um deles bombardeados por quatro loops infinitos de cenas de cinema escolhidas com carinho de colecionador.
Difícil? Então apenas imagine que você entra e sai de filmes e mais filmes, de closes, desenhos animados, sexo, musicais, filmes obscuros, filmes famosíssimos, chanchadas, clássicos, épicos.
Há um elemento embriagante em ``Anos Luz", feito da surpresa de encontrar cenas que acendem pequenas ilhas de memória, de mistura com outras absolutamente desconhecidas e outras que apenas vagamente evocam alguma lembrança. A tentação é parar diante de um filme de que gostamos e saborear um pedacinho de diálogo e música eternamente repetidos, para mais adiante tentar decifrar o enigma de outro, nunca visto, e ter saudade do que não se conheceu.
``Anos Luz" vai iluminar em cada um seu acervo próprio de imagens cinematográficas, criando infinitas experiências diferentes. E possibilita um insight mais interessante que qualquer texto de sociologia sobre esse mundo banhado em luzes e imagens que nos rodeia há apenas um século, mas que já deve ter transformado radicalmente nossas experiências estéticas e afetivas.
Mas a grande surpresa de ``Anos Luz" não são as imagens, mas os sons. Cada trecho de filme tem seu som independente, de maneira que, parando bem à frente da projeção, distinguimos claramente o diálogo. Só que os 52 sons juntos criam uma textura absolutamente surpreendente. Parece um canto tribal, uma mistura de fala e música, é estranhamente uniforme. Jamais se imaginaria que tamanha mistura de línguas, diálogos, músicas e ruídos soaria tão homogênea e ao mesmo tempo tão primitiva. É a trilha sonora de Babel.

Evento: Anos Luz - Cem anos de Belo Horizonte - Cem anos de cinema
Onde: Centro de Cultura de Belo Horizonte (r. da Bahia, 1.149)
Quando: Aberto ao público a partir de hoje das 14 as 22h

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