São Paulo, sexta-feira, 14 de julho de 1995
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Subsídio, sim

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - O avassalador coro de ``todo o poder ao mercado" que se ouve nos quatro cantos do mundo fez com que a agricultura brasileira passasse a ter vergonha de dizer o que de fato necessita.
Sua necessidade chama-se subsídio. Sim, é essa palavrinha feia, fora de moda.
Claro que, em condições normais de temperatura e pressão, é feio mesmo dar subsídio a quem quer que seja. Mais ainda no Brasil, em que, de modo geral, o subsídio funciona como Robin Hood às avessas. Tira do pobre para dar ao rico.
Mas, no mundo real, os países desenvolvidos concedem a seus produtores rurais a incrível pilha de US$ 197 bilhões/ano de subsídios. Equivale a uns 40% de toda a riqueza que o Brasil produz a cada ano, o tal de PIB (Produto Interno Bruto).
É verdade que se comprometeram a reduzir essa pilha. Mas para US$ 165 bilhões, que ainda é dinheiro para ninguém botar defeito.
A agricultura brasileira foi posta a competir contra essa massa de dinheiro. Mais ainda: contra produtores que têm crédito a juros incomparavelmente mais baixos e moedas locais subvalorizadas frente ao real.
Por fim, ainda enfrenta uma redução generalizada e mais ou menos abrupta das tarifas de importação de produtos agrícolas.
Difícil imaginar covardia maior. São ineficientes os produtores brasileiros? Alguns certamente o são, mas, no conjunto, as safras tupiniquins batem recordes atrás de recordes. Logo, não são tão ineficientes assim.
O que não se pode é confundir privilégios à bancada ruralista com a agricultura brasileira como um todo. Que há malandros no campo, ninguém duvida, até porque eles estão em todas as profissões ou funções. A generalização é que é burra, diria Nelson Rodrigues, se vivo fosse.
É por isso que os produtores botaram suas máquinas na estrada e marcham sobre Brasília, que, como de hábito, parece culpar as vítimas pelos estragos causados pela falta de uma política consistente, em especial de preços estabilizadores.

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