São Paulo, sábado, 15 de julho de 1995
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Pacaembu vê uma encenação etno-épica

MATINAS SUZUKI JR.
EDITOR-EXECUTIVO

Meus amigos, meus inimigos, a agenda do esporte que mais emociona este pedaço que fala português na América (``feliz de quem penetra o seu mistério", na versão do Campos da bola da poesia) entra em fase de aguenta coração neste tempo de estio nos matos gerais, mas de alta ansiedade no planeta futurível do fut.
Enquanto a identidade (a identidade é uma falácia cultural? Não está entre as questões chaves da globalização do nem sempre admirável mundo novo? A identidade é uma arma quente?) afro-tupi-alaúdica entra em êxtase no Mercosul da bola -Brasil e Argentina construindo novamente o paradigma do realismo fantástico no reino na bola-, São Paulo, que chegou ao poder em Brasília, mas o Brasil não é só o pulo de Sumpaulo, vive o pega-pra-capar da alegria e da dor.
Atarantado entre corações e mentes em estado de alerta, vejo flashes da invenção permanente que pode ser o futebol nos golaços do Leonardo e do Túlio. Vejo a gambeta que o Juninho imprime na bola, capaz de enganar o malandro-otário espetaculoso chamado Higuita.
E depois vejo o Carlos Alberto Parreira, no programa do Alberto Helena Jr., falando com lógica inquestionável de economista, explicando a razão pela qual a razão recomenda que a miséria neste país e no mundo deve continuar continuamente.
Meus Deus, Parreira está certo na sua argumentação cerrada. Em uma competição curta não entramos para acertar, entramos para não errar. Erro zero.
Mas eu digo, repito, insisto: a vitória também carece de discussão. A vitória não é absoluta. A vitória não se basta. Se fosse possível à lógica expansionista napoleônica parar no momento da vitória, qual seria a sua imagem hoje?
Se a lógica do nazismo fosse a do nazismo é um só país, qual o conceito do vitorioso Hitler da primeira época?
As idéias de Parreira venceram uma Copa. Mas não se tornaram, felizmente, hegemônicas nem no futebol brasileiro nem no futebol internacional. Está aí o rico futebol do Mercosul para mostrar.
Hoje tem decisão, sim senhor. No como era verde o meu vale do Pacaembu, o teatro municipal do futebol em essepê. Em campo, as duas melhores equipes de Sampa. A organização tática, castiça como a língua (o que pode esta língua?), da Lusa, com o seu futebol digno de um fado do Marcineiro. Fica bem esta franqueza.
Se me é permitida a audácia do palpite palpitante -ainda que, em futebol, a maioria dos palpites seja de extração noelina, ou seja, palpite infeliz- eu diria que, neste Campeonato Paulista, os deuses da bola estão inclinados a abençoar os bons times que estão do lado de cá das margens nada plácidas do rio Tietê.
...o Mogi Mirim também ``me gusta".

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