São Paulo, sábado, 15 de julho de 1995 |
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Grupo descobriu sensualidade no ritmo
SYLVIA COLOMBO Bono certa vez comparou a transmissão da Guerra do Golfo pela TV ao quadro ``Guernica", de Pablo Picasso. A sensibilidade histórica para transformar situações em arte fez da banda uma antena cultural dos anos 90.``At the End of the World", a biografia lançada por Bill Flanagan, embarca na idéia de que a trajetória da banda partiu de preocupações bairristas em busca do multiculturalismo. A banda na verdade sofreu uma transformação musical no final dos anos 80. Os álbuns :``Boy", ``War" e ``October" eram quase panfletários, apaixonados. Musicalmente, ironizavam o punk por meio dele mesmo, de um som pesado e melodioso, sem medo do glamour e da ironia. A partir de ``Unforgettable Fire", quando começou a trabalhar com Brian Eno, a banda impulsionou-se a temas mais espirituais, como fé, fidelidade, amor e angústia. Musicalmente, começou a trabalhar mais com recursos tecnológicos e tornou seu som mais sensível e compatível com o que as letras queriam passar. Fincaram o pé na História de forma definitiva em ``Joshua Tree" (87), caindo nos braços da América. ``Rattle and Hum" mostra o U2 itinerante em seu processo de mutação, na estrada, homenageando seus ídolos (Bob Dylan, B.B. King e outros). ``Achtung Baby" tem a Alemanha dilacerada como cenário. Por fim, ``Zooropa" põe no mesmo caldeirão as angústias da banda em relação às transformações nas comunicações. Bill Flanagan rendeu-se aos encantos da filosofia universalista da banda. Seu livro mostra que messianismo e mercado confundem-se no show business dos anos 90. Não se é mais alternativo ou comercial. Pode-se fazer sucesso cantando as agruras da Guerra. O livro carece de informação. Fala mais de processos de criação e transformações filosóficas do que de números e novidades. O U2 nunca foi romântico. Insinuações a sexo e relações amorosas só chegaram com ``Achtung Baby", que chegou a ser criticado pela imprensa à época por ser ``dance". Flanagan mostra como o U2 ficou sensual, incluindo ritmo de uma forma mais ousada, abusando de recursos tecnológicos. A biografia é o retrato de uma passagem. Pelas transformações musicais e estilísticas da banda, Flanagan retrata a mutação do cenário pop dos anos 90. E o U2 se mostra uma antena aguçada e ideal para este objetivo, já que capta sensações e idéias e as recicla em arte através de sua música. (SC) Texto Anterior: Banda deve lançar o seu novo disco em 96 Próximo Texto: Coluna Joyce Pascowitch Índice |
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