São Paulo, domingo, 16 de julho de 1995
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Melatonina só barra insônia de idosos e viajantes

JAIRO BOUER
ESPECIAL PARA A FOLHA

A melatonina -um hormônio que está sendo vendido como a mais nova ``promessa" para quem enfrenta dificuldades para dormir- não tem efeito sobre a maior parte das insônias.
Essa é uma das conclusões do último congresso da Associação Americana dos Distúrbios do Sono, realizado no início de junho, em Nashville (Tennesse, EUA).
A melatonina é um hormônio liberado durante a noite pela glândula pineal -localizada na parte posterior do cérebro.
As pesquisas mais recentes apontam que o hormônio sintético funcionaria apenas em idosos que têm níveis baixos de melatonina no organismo e em viajantes que enfrentam o ``jet-lag" (desconforto após longas viagens de avião).
A melatonina vem sendo comercializada há alguns anos nos Estados Unidos. Os laboratórios apostam no apelo ``natural" do produto e no fato dele não ser causador de dependência química (fenômeno comum entre as medicações usadas para induzir o sono).
A melatonina é vendida em lojas de suplementos alimentares, academias e farmácias americanas sem necessidade de receita médica (a mesma situação dos aminoácidos, complementos calóricos e ``queimadores de gordura").
O FDA (órgão que controla a venda de medicamentos nos Estados Unidos) liberou a melatonina na categoria de suplemento nutricional e não como medicação capaz de normalizar o sono (caso em que só poderia ser vendida em farmácias com receita médica).
A melatonina chegou há poucos meses ao Brasil. O produto pode ser adquirido sem receita. Já há muita gente tomando os comprimidos, por conta própria, para regularizar o sono, melhorar o ânimo e retardar o envelhecimento.
Flávio Aloe, neurologista e médico-assistente do Centro de Estudos do Sono do Hospital das Clínicas da USP, explica que a melatonina só está sendo usada pelos especialistas em nível experimental e que seus efeitos são restritos.
Segundo Aloe, que participou do congresso em Nashville, a substância não funciona bem como medicação hipnótica (capaz de induzir e manter o sono).
Doses altas de melatonina podem provocar um certo grau de sedação em algumas pessoas, mas não há manutenção do sono. Pode haver uma diminuição nos reflexos psico-motores após a ingestão dessas doses mais altas.
O hormônio sintético não permanece em níveis regulares na circulação. Ele produz um ``pico" de concentração na primeira hora e, depois, vai desaparecendo.
Aloe diz que o único grupo de pacientes em que a melatonina produziu uma melhora subjetiva (o paciente diz que o sono melhorou) foi o dos idosos que tinham níveis baixos do hormônio no organismo.
Outra utilidade possível da substância é a redução do desconforto e da dificuldade de dormir nas pessoas que enfrentam longas viagens de avião e que mudam rapidamente de fuso horário.

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