São Paulo, domingo, 16 de julho de 1995
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Crianças em casa tumultuam vida familiar

VICTOR AGOSTINHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Durante as férias escolares, um forte sentimento une as mães que trabalham fora de casa: culpa.
Como a crise financeira não está permitindo que os pimpolhos sejam despachados para acampamentos ou outras programações de inverno, as mães sofrem.
Primeiro porque não conseguem organizar passeios durante a semana. Depois porque, de seu local de trabalho, tentam monitorar, pelo telefone, as atividades dos filhos, dos coleguinhas convidados e das empregadas -cujas tarefas dobram nas férias.
``Estou angustiada e culpada. As crianças ficam trancadas em casa, muito nervosas. Sempre sobra para a mãe ter que arrumar atividades diferentes", diz Branca Calegari, 38, artista plástica e mãe de Caio, 3, e Júlia, 5.
Com a publicitária Lisete Capeletto, 29, mãe de Felipe, 10, os problemas são parecidos. ``Fico, sim, com sentimento de culpa. Para piorar as coisas, nas férias a gente briga mais. É claro que não é de propósito e que passa logo, mas a tensão aumenta. Nós dois ficamos mais tempo juntos", diz.
Lisete acredita que, fora do colégio, sem horários para cumprir e sozinhos -só com a empregada e amigos- as crianças ``se sentem donas do mundo e acham que não têm hora para nada. É difícil...".
Lúcia Helena Gama, 38, socióloga e mãe de Ruriá, 11, diz que as férias de julho ``são um dilema", para ela e para o filho.
``Quando estou mais ocupada no trabalho e não consigo dar atenção a ele, fico me sentindo a mais culpada do mundo. Toda vez que acabam as férias de inverno, fico pensando que as próximas serão melhores", diz a socióloga.
A saída para minimizar a sensação desagradável da culpa, segundo as próprias mães, é a união.
Branca conta que na semana passada combinou com outras mães uma estratégia para que os filhos não se sintam sozinhos. ``Nós vamos revezando. Cada dia uma recebe a criançada", afirma.
Além do videogame, as mães tentam organizar atividades com gosto de férias. ``Outro dia contratei dois animadores. Foi legal pois não era aniversário de ninguém e as crianças curtiram do mesmo jeito", diz a historiadora Mônica Pereira, 32, mãe de Ivan, 6.

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