São Paulo, domingo, 16 de julho de 1995
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Modelo asiático deixa ocidentais preocupados

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O Banco do Japão reduziu os juros na semana passada. Foi pouco depois de concluídas as negociações com os EUA sobre abertura do seu mercado automobilístico.
Enquanto isso, o número de falências bateu recorde e o volume de dívidas cresce sem parar. Os políticos tradicionais levaram um banho nas últimas eleições e o país vive a síndrome dos envenenamentos a gás.
Ao mesmo tempo, praticamente todas as publicações de negócios ocidentais identificam e alertam contra uma nova onda nacionalista entre a elite japonesa. Do ``Economist" à ``Business Week", passando pela ``Foreign Affairs" e pela reedição de artigos do japonólogo Chalmers Johnson, o fenômeno parece relativamente inequívoco, goste-se ou não, acredite-se ou não na possibilidade de um modelo econômico japonês alternativo.
Vários autores negam essa pretensão. Paul Krugman é um deles. Krugman compara o milagre asiático ao milagre soviético: tudo não passaria de um surto de crescimento movido a poupança compulsória, sacrifício da população e adiamento do consumo.
Mas a onda não se limita a um suposto neonacionalismo japonês. Está em jogo também a hipótese de que toda a Ásia talvez obedeça a uma lógica econômica, política e social que nunca convergirá com a perspectiva japonesa. Um pouco até como reação ao ``fim da História" decretado, ironicamente, por um intelectual nipo-americano, Francis Fukuyama, cada vez mais gente na Ásia insiste na tese de que a história lá mal começou.
O desenho geopolítico asiático, mais que o modelo econômico, está em vias de transformação. Há três anos Edward J. Lincoln, num estudo publicado pela OCDE, alertava para o fato de que não houve intervenção direta do Japão nas guerras da Coréia ou Vietnã.
O Japão estaria em condições, portanto, de patrocinar um novo modelo de integração econômica regional envolvendo os países socialistas asiáticos.
Isso apenas complica o quadro, pois a transição nos vários países socialistas da região, embora muito distante do modelo caótico da Europa Oriental, também envolve situações de tensão e indeterminação.
O palco mais evidente contrapõe as duas Coréias. Estados Unidos, China, Rússia e Japão manobram em direções raramente convergentes e a Coréia do Sul procura sua própria linha de ação, abrindo espaço com doações de arroz e contatos informais com a Coréia do Norte.
Há também tensões indisfarçáveis em Hong Kong, que em dois anos passará ao controle chinês. E na própria China, que está em fase adiantada de transição na cúpula da gerontocracia.
Uma visão panorâmica sobre esses países revela portanto o grau avançado de paranóia ainda predominante entre os analistas ocidentais. A guerra fria já acabou, a Segunda Guerra foi há 50 anos, mas tem muito ocidental, a favor ou contra, enxergando um ``perigo amarelo" escondido em cada economia.
A realidade mostra que seja qual for o destino do pólo asiático, e tudo indica que será um destino valoroso, as coisas por ali ainda estão mais longe de um ``modelo" do que supõe nossa vã filosofia.

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