São Paulo, domingo, 16 de julho de 1995
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Estudar mais é a solução

ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES

Ao disseminarem os testes de desempenho escolar entre vários povos, os americanos tomaram um susto ao verificar que os asiáticos, de modo geral, se destacam muito mais do que qualquer outro povo em matemática, física, química e biologia. Os referidos exames revelam uma superioridade média de 25% -sejam eles realizados em asiáticos que vivem nos Estados Unidos, na China, Japão, Coréia, Cingapura, Taiwan ou outros Tigres.
Os primeiros resultados chocaram a nação. Mas eles serviram para os Estados Unidos lançarem um amplo programa de reforma educacional -já em andamento. Tal programa procura enfatizar basicamente as causas da determinação do bom desempenho dos asiáticos. Uma delas -muito simples- diz respeito ao tempo investido nas atividades de estudo.
O período de aulas do ensino primário e secundário nos dois casos é aproximadamente o mesmo. As escolas americanas e asiáticas são em tempo integral e devotam cerca de 6 a 7 horas do tempo a aulas formais. A grande diferença está no tempo dedicado à ``lição de casa". Os estudos comparativos mostram que os estudantes asiáticos têm pouco lazer e muito estudo. As lições de casa chegam a tomar quatro horas diárias, enquanto que, nos Estados Unidos, não chegam a duas. Em vista disso, os americanos decidiram reformular currículos e intensificar o trabalho extra-escolar.
O segundo fator mais importante é bem mais complicado. Pesquisas realizadas por especialistas da Universidade da Califórnia indicam que os valores culturais americanos, quando comparados aos asiáticos, estão se tornando demasiadamente tolerantes e condescendentes em relação à preguiça -o que não acontecia no passado, quando prevalecia nos Estados Unidos a cultura do ``hard work".
De fato, as crianças e os adolescentes americanos gastam 30% do seu tempo diário na frente da televisão, enquanto que as asiáticas não chegam a 10% -mesmo nos países que são, hoje em dia, os campeões na produção de aparelhos de TV como são os casos do Japão, Coréia e Taiwan. O grosso da produção desses países é exportado para que os demais povos se entretenham e se esqueçam de estudar, da mesma forma que o grosso dos cigarros produzidos nos Estados Unidos também é exportado para que os outros povos desenvolvam inúmeras doenças tais como enfisema, insuficiência coronária, hipertensão e vários tipos de câncer.
Quando se trazem todos esses dados para o Brasil, nosso quadro é triste. A grande maioria das crianças e adolescentes entre nós frequenta escolas de menos de quatro horas de aula -boa parte consumida em reuniões de professores que não gostam de ensinar. O quadro docente, em geral, é mal formado, o material didático é precário, e a lição de casa é praticamente inexistente. Fora da escola, 30% do tempo vai para a TV e o restante para a rua. O nosso ministro da Educação lançou um importante programa nessa área -``Acorda Brasil: Está na Hora da Escola". O que falta, agora, é executá-lo.

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