São Paulo, segunda-feira, 17 de julho de 1995
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Andrade Vieira critica lideranças rurais

HELCIO ZOLINI
DA AGÊNCIA FOLHA, EM VIÇOSA

O ministro da Agricultura, Abastecimento e Reforma Agrária, José Eduardo Andrade Vieira, criticou ontem em Viçosa (MG) as lideranças do movimento ``Não posso plantar - Marcha sobre Brasília", que segue em caravana rumo à capital federal para protestar contra a política agrícola do governo. Ele disse à Agência Folha que não sabe se irá recebê-los.
``Receber quem? Quem os elegeu representantes do setor? Eles se arvoraram em representantes. Não sei se vou recebê-los. Não são lideranças conhecidas nacionalmente. São lideranças de cunho político, que estão se aproveitando de uma situação de dificuldades localizadas que a agricultura atravessa", afirmou.
No sábado, a Folha publicou que o ministro da Agricultura apoiva a manifestação dos agricultores.
Segundo Vieira, as ``grandes" lideranças da área rural não participam do movimento.
``Os legítimos representantes da classe estão sendo permanentemente recebidos por mim e pelo presidente da República. Estamos em constante diálogo. Esse movimento é uma precipitação", disse.
Vieira disse que está sendo criticado, principalmente, por ter contrariado os interesses de grandes produtores rurais.
``Estou sendo violentamente criticado porque feri interesses de ruralistas e de grandes empresas rurais, como as usinas de açúcar. Esse pessoal tem motivo para estar insatisfeito porque não terá mais acesso ao crédito farto e barato", disse.
Ele explicou que isso ocorreu depois que os financiamentos agrícolas passaram a ser limitados em R$ 150 mil.
``Isso vai permitir que mais agricultores tenham acesso ao crédito. Os grandes estavam acostumados a tirar R$ 2 milhões, R$ 3 milhões de custeio no sistema bancário com juros subsidiados. Com isso, os pequenos e médios ficavam sem recursos para financiar suas safras", declarou.
Vieira disse que as críticas dirigidas contra ele se devem também às perdas que os médios e pequenos agricultores tiveram em função da queda dos preços de seus produtos e procurou se defender.
``Estamos tomando providências para corrigir as distorções que o setor vem enfrentando. Sofremos com as altas dos insumos no custeio da safra de 94 e das taxas de juros e tivemos o efeito da crise do México. São fatores que estiveram fora do nosso controle. Também tivemos as importações em função dos acordos do Mercosul e do Gatt (Acordo Geral de Tarifas e Comércio), que o Brasil se obriga a cumprir independente da vontade de um ministro. Tudo isso veio cair em cima da agricultura."
Ele afirmou ainda que a liberação de parte recolhimento compulsório dos bancos junto ao Banco Central deverá gerar de R$ 700 milhões a R$ 800 milhões por mês para financiar a agricultura. ``Isso permite que ela seja adequadamente atendida", disse.

LEIA MAIS
sobre a marcha a Brasília na pág. 1-6

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