São Paulo, segunda-feira, 17 de julho de 1995
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Bombeiro teen fez um parto aos 13 anos

Júnior pode sair da corporação por ser menor de 18

VALMIR DENARDIN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM ITAPETININGA

Aos 4 anos, ele viu pela primeira vez um corpo queimado em um acidente de carro. Aos 10, participou do salvamento de um motorista de caminhão preso em um emaranhado de ferragens. Aos 13, ajudou a fazer um parto.
Não, não é o Super-Homem. Clarindo Alves Lamounier Júnior, 14, é um dos 30 bombeiros voluntários de Itapetininga (170 km a oeste de São Paulo), cidade com 105 mil habitantes.
Apesar de ser o mais novo da turma, ele não se assusta mais com situações de perigo e de tensão.
Tudo começou há dez anos. Sua mãe havia saído e Júnior estava em casa com o pai, Clarindo Alves Lamounier. Ele era o presidente do Corpo de Bombeiros Voluntários de Itapetininga.
O pai precisava socorrer as vítimas de um acidente entre um ônibus e um carro. Não tinha com quem deixar o filho e decidiu levá-lo. Quatro pessoas morreram queimadas no acidente. Júnior acompanhou a retirada dos corpos.
``À noite, tive pesadelos", lembra. ``Mas foi a única vez." Quatro anos depois, começou a fazer cursos de preparação para ser bombeiro voluntário.
Sua primeira ocorrência, dois anos depois, foi um combate a incêndio. Depois, começou a fazer plantões noturnos na corporação.
Júnior perdeu a conta das ocorrências de que participou. Duas o marcaram profundamente: uma pela tragédia e outra pela emoção. Na primeira, ajudou a tirar nove corpos carbonizados após acidente entre um ônibus e um caminhão.
Já o episódio emocionante aconteceu no ano passado. O Corpo de Bombeiros recebeu um pedido para levar uma mulher para a maternidade. Júnior estava no plantão.
``Fomos eu e outro bombeiro. Quando chegamos lá, ela já estava em trabalho de parto. Ajudamos a criança a nascer e levamos a mãe e o nenê (um menino) para a maternidade", conta.
Agora, a participação do bombeiro teen em operações perigosas enfrenta a resistência do atual presidente do Corpo de Bombeiros Voluntários, Adalberto Christo das Dores, 61.
Dores proibiu o menino de integrar equipes de salvamento. ``O nosso estatuto impede a participação de menores de idade", diz. ``Mas ele continua sendo uma espécie de mascote da corporação."
Mas Júnior não desiste, mesmo estando bem acima do peso ideal para um bombeiro (95 kg para 1,66 m). Quer continuar participando dos plantões e frequentando diariamente a sede da corporação. Planeja estudar medicina e trabalhar como médico dos bombeiros.

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