São Paulo, segunda-feira, 17 de julho de 1995
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Por que não um bacalhau?

JOSIAS DE SOUZA

BRASÍLIA - Dois motivos levaram Fernando Henrique Cardoso a entregar a embaixada em Lisboa aos cuidados de Itamar Franco. Primeiro, o sentimento de gratidão. Depois, o desejo de interpor um oceano entre o ex-presidente e o Brasil.
Tudo estaria bem não fosse por um detalhe: Itamar Franco ainda se considera credor de Fernando Henrique. E ameaça convocar o contribuinte para pagar o resto da conta.
O espectro de Itamar cruzou o Atlântico para fazer ronda junto aos escaninhos por onde escoam os pedidos de emprego público. Além dos amigos que já pendurou no organograma federal, o ex-presidente quer dar emprego a mais três biografias foscas: Djalma Morais, Marcelo Siqueira e Wilson Romão.
A despeito da ausência de qualificação dos indicados, Fernando Henrique hesita em descartá-los. Pensa mesmo em aproveitar pelo menos dois, Djalma e Marcelo. Ao primeiro daria a vice-presidência da BR Distribuidora, subsidiária da Petrobrás. Ao outro, uma telefônica estadual ou Furnas, por onde já passou.
Nada no currículo dos três apadrinhados de Itamar justifica um contracheque mensal extraído do erário.
Ex-diretor da Polícia Federal, Romão promoveu um festival de distribuição irregular de portes de arma.
Último ministro das Comunicações de Itamar, Djalma protagonizou um suspeitíssimo caso da distribuição de concessões de serviços de telecomunicações.
De Marcelo Siqueira, sabe-se que, nas últimas eleições, tentou obter uma vaga de deputado federal pelo PSDB. Foi barrado pelo eleitor mineiro.
Nesta semana, Fernando Henrique fará uma visita a Portugal. Bem poderia pagar sua dívida com Itamar financiando-lhe uma boa e honesta travessa de bacalhau à Gomes de Sá. Com os cumprimentos do contribuinte, é claro.

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