São Paulo, terça-feira, 18 de julho de 1995
Próximo Texto | Índice

Guru engrossa discurso em `Jazzmatazz 2'

CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O rapper norte-americano Guru volta ao ataque. Dois anos após o lançamento do álbum ``Jazzmatazz", ele agora traz a segunda parte de sua polêmica fusão de rap, hip-hop e jazz, já nas lojas dos EUA e da Europa, com lançamento aqui previsto para a próxima semana.
Na capa de "Jazzmatazz Volume 2 - The New Reality", que decalca o design clássico dos álbuns do selo de jazz Blue Note, Guru posa com pinta de gângster.
Todo de preto e com um chapéu de abas largas (em vez do habitual boné de rapper), ele faz cara de mau, encostado em um enorme Cadillac branco. O cenário é um terreno baldio de Nova York.
Se já tinha contado com vários convidados especiais no trabalho anterior, neste álbum Guru imita os programas políticos de apoio a candidatos presidenciais.
Quase 30 cantores e músicos bastante conhecidos no mercado internacional foram convocados a participar do projeto: da novidade de Ini Kamoze ao britânico Jamiroquai, passando pelos jazzistas norte-americanos Ramsey Lewis e Kenny Garrett.
Num misto de mestre-de-cerimônias e líder negro, Guru já introduz a primeira faixa (``New Reality Style"), com um politizado discurso em ritmo de rap.
Elogia o ``maravilhoso e incrível" time de vocalistas e jazzistas que participam do disco, mas também prega a necessidade imediata de ``uma revolução mental de 360º", denunciando a ``divisão sistemática das famílias negras".
Felizmente, o ouvinte quase não tem tempo para se perguntar se Guru teria trocado o balanço dos ``grooves" e dos ``samples" pela chatice da demagogia política.
Muito pelo contrário: ``Jazzmatazz 2" mostra que, se por um lado o discurso de Guru está bem mais afiado, por outro, sua fusão sonora progrediu para uma música melhor ainda para se ouvir e, principalmente, dançar.
É o que se sente logo em ``Living in This World", a terceira faixa. Apesar de Guru falar de miséria, corrupção e preconceito, os vocais da cantora Sweet Sable soam doces, com um irresistível tempero de ``soul music".
Já em ``Watch What You Say" é a cantora Chaka Khan que sobrepõe vocais sobre a própria voz, num dos arranjos mais burilados do disco. Ao fundo, o jazzista Branford Marsalis improvisa com seu sax tenor.
Mas Guru não se contenta em apenas tentar transmitir seus recados através do rap. A vinheta que introduz ``Watch What You Say", por exemplo, tem a forma de uma, acredite, entrevista.
``Guru, você se vê no papel de um modelo?", pergunta uma voz feminina. A resposta do sisudo compositor soa como uma discreta estocada nos agressivos e fanfarrões ``gangsta rappers":
``Assim como eu sigo outros rappers, acho que meus fãs também seguem minha música. Sou responsável, mas isso não quer dizer que eu seja perfeito -sou humano. Mas sei uma coisa: algumas pessoas deveriam tomar mais cuidado com o que dizem."
Porém, mais do que seu discurso, o que importa é que Guru conseguiu reunir uma série de deliciosos ``grooves", tratados de uma maneira bem mais musical que os do primeiro ``Jazzmatazz".
Faixas como ``Feel the Music" (com os vocais suaves de Baybe, uma promissora revelação) ou ``Lost Souls" (parceria com Jamiroquai) têm tudo para virarem hits. Afinal, enquanto não se decidir a virar político, a arma mais poderosa de Guru ainda é sua música.

Título: ``Jazzmatazz Volume 2 - The New Reality"
Autor: Guru
Convidados: Chaka Khan, Ini Kamoze, Jamiroquai, Me'Shell N'Degeocello, Mica Paris, Sweet Sable, Baybe, Shara Nelson e Dc Lee (vocais); Branford Marsalis, Kenny Garrett e Courtney Pine (saxofones); Freddie Hubbard e Donald Byrd (trompetes); Ramsey Lewis (piano) e outros.
Lançamento: Chrysalis/EMI
Quanto: R$ 25,00 (em média, o CD importado)

Próximo Texto: Jamal precede onda `acid'
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.