São Paulo, terça-feira, 18 de julho de 1995
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Possível, mas indesejável

O déficit na balança comercial pelo oitavo mês consecutivo mostra que, apesar das iniciativas do governo, a trajetória das contas externas do Brasil não se afasta totalmente daquela percorrida pelo México. É um sinal de que os fatores que geram o déficit não foram revertidos e que, assim, o país continua a depender de financiamentos para ``fechar as contas".
Finalizada a apuração de junho, as importações superaram as exportações em US$ 775 milhões. E o patamar das compras externas não se reduziu. Ele permanece aproximadamente o dobro do que era há um ano, antes do crescimento econômico e da valorização cambial.
No primeiro semestre de 94 as importações somaram US$ 13,1 bilhões. De janeiro a junho de 95 esse valor saltou para US$ 25,7 bilhões. Em apenas um ano, portanto, as importações cresceram 96%. E até o momento esse patamar continua exatamente o mesmo. Em junho de 94 o Brasil importou bens no valor de US$ 2,5 bilhões. No mês passado, as importações foram de US$ 4,9 bilhões, 96% a mais.
Com a ajuda de alguns incentivos, as exportações também cresceram, mas não no mesmo ritmo. O incremento das vendas ao exterior foi de 6,7% entre o primeiro semestre de 94 e o mesmo período de 95.
O resultado é que o Brasil acumula um déficit comercial de US$ 4,25 bilhões nos seis meses iniciais deste ano. Essa diferença ainda não se refletiu no comportamento das reservas internacionais, pois as altíssimas taxas de juros internas têm estimulado a obtenção de financiamentos no exterior. Como esta Folha publicou no domingo, a dívida comercial (de exportadores e importadores) cresceu aproximadamente US$ 8,5 bilhões entre junho de 1994 e junho de 1995.
Praticamente abandonada a meta de reverter o déficit este ano, o governo agora argumenta que o sinal vermelho nas contas externas não é tão problemático, pois está sendo financiado. Ora, o problema é justamente esse. Não é impossível manter por mais tempo uma trajetória de crescimento da dívida externa. Mas, face à lição do México, essa é uma opção que deve ser encarada com extrema cautela.

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