São Paulo, terça-feira, 18 de julho de 1995
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Que as armas cedam à toga

O homem, no curso de sua história, notabilizou-se pela sua capacidade de desenvolver novas tecnologias. Esses avanços se deram em várias áreas, mas uma das que mais se desenvolveram foi sem dúvida nenhuma a tecnologia de matar. Das primeiras pedras pontiagudas usadas como armas à fantástica bomba de nêutrons, que apenas elimina a vida mantendo intactas as edificações, há um avanço nada desprezível.
Entre as pedras -ainda fartas- e a bomba de nêutrons -de eficácia duvidosa quando se trata de crimes comuns como o tráfico de entorpecentes e assaltos a bancos- há uma categoria intermediária bastante útil: as armas semi-automáticas como os 297 fuzis do tipo AK-47 apreendidos no Rio de Janeiro na semana passada.
Considerada legal pelo Ministério do Exército e pela Receita Federal, a importação dessas armas de fabricação chinesa pela Associação Brasileira de Colecionadores de Armas (ABCA) enseja alguma reflexão.
Embora não haja muita lógica em coleções em geral, pode-se perguntar para que alguém deseja possuir em sua casa um fuzil do tipo AK-47. Para praticar tiro ao alvo? Para repassá-los a criminosos? Ou simplesmente pelo prazer nem sempre lógico de acumular coisas, sejam elas quais forem?
A já notória superioridade bélica dos traficantes sobre a polícia e os crescentes níveis de criminalidade verificados no país recomendam um controle mais eficiente da venda e importação de armas de fogo. É óbvio que os grandes traficantes sempre conseguirão se armar no mercado negro. Mas ainda assim um controle mais rígido das armas poderia ser bastante útil para diminuir os índices de violência. Países como o Japão já obtiveram sucessos nessa área. Outros, como os EUA, onde a venda de armas encontra pouca limitação, ostentam altíssimos níveis de violência.
O homem sempre soube manter-se atualizado nas técnicas de matar mais e melhor. Bem mais difícil é tentar seguir alguns velhos princípios universalmente válidos. Como já dizia Cícero, para que a vida em sociedade seja possível, é preciso ``que as armas cedam à toga" (``Cedant arma togae").

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