São Paulo, quinta-feira, 20 de julho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Governo mantém TR nas dívidas agrícolas

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Apesar de terem colocado em Brasília cerca de 600 caminhões, o movimento ``Não Posso Plantar" não obteve até ontem nenhuma resposta do governo à sua principal reivindicação -o fim da correção dos empréstimos agrícolas.
Em contrapartida, a Contag (Confederação dos Trabalhadores na Agricultura) festejou ontem a aprovação de medidas de estímulo a pequenos produtores.
Eles terão R$ 1,6 bilhão para a próxima safra, a juros de 12% ao ano, menor do que os 16% de juros válidos para médios e grandes produtores.
Ontem, o presidente da Associação dos Arrozeiros de São Borja (RS), Antônio Eloy Paz, um dos líderes do movimento, admitiu que o resultado mais importante foi o de alertar a sociedade e o governo para o problema dos produtores agrícolas.
"Se neste ou no próximo ano faltar alimentos no país, a sociedade saberá que a culpa é do governo", afirmou Paz.
Para o presidente da CNA (Confederação Nacional da Agricultura), Antônio de Salvo, o alerta geral é muito pouco.
Ele anunciou que a entidade vai encaminhar, em agosto, uma ação direta de inconstitucionalidade ao STF (Supremo Tribunal Federal) contra a cobrança de indexadores diferentes para corrigir os empréstimos rurais e os preços mínimos dos produtos agrícolas.
A reunião com o presidente interino, Marco Maciel, durou pouco mais de uma hora.
Os agricultores entregaram um documento com a principal reivindicação: suspensão da cobrança da TR (taxa referencial) desde maio de 94. Eles afirmam que pagam o principal da dívida e os juros, mas não a TR.
O maior comprometimento de Maciel foi o de repassar a FHC o documento dos agricultores.
O ministro Andrade Vieira (Agricultura) esteve presente no encontro e, ao contrário das expectativas, não foi criticado. Ele chegou a ser elogiado pelo deputado Severiano Alves (PDT-BA).
Se Andrade Vieira foi poupado, o mesmo não ocorreu com o Banco do Brasil. Os representantes dos agricultores dizem que o banco abandonou seu papel social e, por estar disputando mercado com os outros, está deixando o homem do campo de lado.
O dia dos agricultores que ocuparam Brasília começou com um ``buzinaço" na Esplanada dos Ministérios, às 7h, quando as ruas e prédios localizados nas proximidades estavam praticamente vazios.
"Vamos acordar a cidade", discursou um dos organizadores. Não há edifícios residenciais nos arredores da Esplanada.
Os produtores também assistiram a uma missa na catedral de Brasília, rezada pelo monsenhor Francisco Wolczanski. Segundo ele, cerca de mil pessoas participaram da cerimônia.
O resto da manhã foi consumido com pronunciamentos de líderes do movimento e parlamentares. Às 12h30 foi servido o almoço. Os organizadores prepararam um churrasco -com um boio doado por um pecuarista de Brasília-, que foi servido com arroz de carreteiro e 2 mil sanduíches.

Texto Anterior: Relator diz que governo aceita mudar MP
Próximo Texto: Demissão de Andrade Vieira divide movimento
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.