São Paulo, quarta-feira, de dezembro de
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Apart-hospital

JOSÉ KNOPLICH

O ministro Jatene está tentando obter fundos no Banco Mundial para terminar 1.700 hospitais e postos de saúde que estão inconclusos e com as estruturas deteriorando-se em todo o Brasil.
A maioria dessas construções está em processo de deterioração de três a quatro anos e, a persistir esse quadro, só restará a alternativa de implosão desses hospitais inacabados, jogando-se milhões de reais no lixo.
Em janeiro de 94, a Associação Paulista de Medicina (APM) apresentou um plano ao então ministro Santillo, para terminar o Hospital de Pirajussara, de Embu das Artes, com 40% da alvenaria pronta já se deteriorando.
Por esse plano, a APM, como uma Organização Não-Governamental, assumiria junto com empresários, comerciantes, maçonaria, clubes de prestação de serviços, igrejas e população local o controle do empreendimento para arrecadar fundos para terminar o hospital por etapas e equipá-lo.
Primeiro o pronto-socorro e alguns leitos de emergência e, logo em seguida, a maternidade, orçados em 3 a 4 milhões de dólares.
O hospital seria da comunidade, portanto público, mas não seria de nenhum governo. 60% de sua capacidade internaria pelo SUS, mas poderia atender convênios de saúde. Os médicos poderiam inclusive internar clientes particulares.
Não haveria funcionários públicos. O hospital seria aberto aos médicos como uma entidade privada. Esse é o esquema dos hospitais filantrópicos americanos.
Os grandes doadores integram o Conselho de Mantenedores e se encarregam de angariar novos doadores, além de aplicar as verbas e de contratar uma administração profissional. Os médicos podem ou não participar do empreendimento, mas têm que colocar recursos que não lhes garantam nenhum privilégio, pois as equipes médicas são contratadas por critérios técnicos e controladas periodicamente em eficiência e qualidade.
Poderia se introduzir uma nova idéia, que seria o apart-hospital, onde as famílias comprariam um quarto do hospital inacabado e teriam como rendimento uma porcentagem das diárias efetivamente ocupadas, como um flat.
É uma propriedade da família, com escritura e rentabilidade mínima, além de homenagear um ente querido dentro de uma obra social. Esse procedimento trará mais um controlador dos gastos e da qualidade do hospital, pois não permitirá associar o seu nome familiar a um projeto com fraudes, mau atendimento e desperdícios.
Numa entrevista, o secretário de Estado da Saúde, José da Silva Guedes, mostrou-se receptivo à idéia, aventando possibilidades de empréstimos já existentes no mercado nacional e internacional para entidades não-governamentais.
Completando a idéia do apart-hospital, as empresas ou famílias tomariam emprestado esse dinheiro do Banco Mundial com custos subsidiados em nome próprio e repassariam o dinheiro para a ONG que assumisse o hospital comunitário, tendo as homenagens, a propriedade e os abatimentos de impostos a que eventualmente têm direito essas transações.
É o país começando nova etapa no financiamento da saúde, sem aumentar a inflação, sem ameaça de novos impostos e permitindo à parte mais esclarecida e economicamente mais abonada da sociedade exercer o seu compromisso ético de solidariedade comunitária.

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