São Paulo, quinta-feira, 20 de julho de 1995
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Na ONU, japoneses tentam barrar testes

RICHARD LLOYD PARRY
DO ``THE INDEPENDENT", EM TÓQUIO

O primeiro-ministro japonês, Tomiichi Murayama, acusou ontem o governo francês de traição e anunciou que o Japão pedirá a aprovação de uma resolução da Organização das Nações Unidas condenando a retomada de testes nucleares pela França.
"Tais atitudes traem a confiança dos países não-nucleares e eu lamento profundamente", disse Murayama em Hiroshima.
Na cidade, ele participou da campanha dos candidatos de seu partido ao Senado do Japão. As eleições ocorrerão neste domingo.
A mesma mensagem deveria ser entregue ao embaixador francês em Tóquio, que foi convocado à casa do premiê ontem de manhã.
No Japão, onde uma declaração para "lamentar" é o mais próximo que os políticos chegam para expressar sua fúria, esses atos aparentemente suaves são levados a sério, um ponto que o porta-voz do governo, Kozo Igarashi, enfatizou. "É extremamente raro convocar alguém na residência do primeiro-ministro para fazer um pedido", afirmou.
Desde 13 de junho, quando o presidente francês Jacques Chirac anunciou a retomada de testes, a oposição japonesa tem se expressado num tom cada vez mais alto.
Jacques Chirac, que visitou o Japão mais de 30 vezes, é considerado um amigo do país, e os protestos educados de Murayama foram educadamente rejeitados.
Os governos japoneses têm por hábito denunciar publicamente programas nucleares, mas em geral suas palavras não são acompanhadas por atos.
Em maio, o Japão cortou um subsídio a Pequim depois de um teste nuclear chinês, mas os empréstimos a juros baixos do Japão para a China não foram afetados.
O governo de Murayama decidiu não participar do boicote contra o Irã, pregado pelos Estados Unidos, contrários às ambições nucleares do país. Mas, nos últimos dias, políticos japoneses têm aderido aos protestos antinucleares.
Masayoshi Takemura, ministro das Finanças e líder da coalizão, chegou a sugerir o boicote de produtos franceses, que no ano passado chegaram a US$ 5 bilhões, mas porta-vozes do governo se distanciaram de tal proposta. Os motivos para o aumento da pressão são tanto uma reação aos assuntos internos do Japão como um ato de consciência internacional.
Certamente a escolha de Hiroshima para o anúncio de Murayama não foi acidental. Nenhum assunto provoca mais emoção, especialmente ao se aproximar a data do 50º aniversário do bombardeamento de Hiroshima e Nagasaki.

Tradução de Lise Aron

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