São Paulo, quinta-feira, 20 de julho de 1995
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Muçulmanos entregam Zepa aos sérvios

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Forças sérvias bósnias tomaram ontem o encrave de Zepa, segunda área protegida da ONU a se render na Bósnia.
O anúncio foi feito pelo comando dos sérvios, em Pale, e, até as 23h30 (horário de Brasília), não havia sido confirmado pelas Nações Unidas que registraram, porém, a presença de soldados sérvios no centro de Zepa.
A retirada de muçulmanos, em processo de "limpeza étnica" semelhante ao que ocorreu na semana passada em Srebrenica, deve começar hoje.
"Zepa se rendeu. Trinta soldados muçulmanos feridos serão levados pela ONU para Sarajevo, e os civis que quiserem sair vão para Kladanj ou Tuzla", disse o comandante militar dos sérvios bósnios, general Ratko Mladic.
Ele nega que vá expulsar os muçulmanos, assim como negou a expulsão ocorrida em Srebrenica.
Entre 10 mil e 15 mil refugiados muçulmanos se somam à população de Zepa, de 15 mil pessoas. Não há dados sobre mortos e feridos nos combates de ontem.
A queda ocorre depois de cinco dias de cerco e ataques. Ainda não foi definido o destino dos cerca de 90 reféns ucranianos, integrantes de tropas da ONU, que estavam em poder tanto de sérvios como de soldados muçulmanos.

ONU
Ontem começou também o assalto ao encrave de Bihac, no noroeste da Bósnia, reduzindo para um o número de áreas protegidas que não estão sob cerco cerrado.
Apenas Tuzla, no leste do país, está sob ataques moderados. A cidade concentra 30 mil refugiados expulsos de Srebrenica.
Sarajevo, capital e cidade mais populosa da Bósnia, continua sitiada. Zepa caiu e Gorazde recebeu ontem um ultimato do líder dos sérvios bósnios, o psiquiatra Radovan Karadzic -que havia admitido trocar o encrave por áreas para os bósnios (leia texto abaixo).
O enviado da ONU para o conflito na Bósnia, Yasushi Akashi, disse ontem que suas tropas não têm como proteger os encraves.
"Nós somos incapazes de fazer isso. Somos uma força de dissuasão, não de proteção", disse. A ONU enviou tropas para a Bósnia, em 1993, justamente para proteger civis em seis áreas protegidas.

Bihac
O ataque a Bihac começou na manhã de ontem. Ele está sendo empreendido pelos sérvios da Croácia, que dominam a região que faz fronteira com o encrave, e por muçulmanos rebeldes contrários ao governo bósnio, liderados por Fikret Abdic.
Pelo menos cinco pessoas morreram no ataque. Segundo relatos extra-oficiais, há dezenas de mortos e feridos. Segundo a ONU, as tropas sérvias da Croácia atacam pelo leste, e os rebeldes muçulmanos, pelo norte.
Houve mais de mil explosões de foguetes e peças de artilharia. As tropas sérvias croatas avançaram 2 km na área de Bihac.
Os sérvios da Croácia, assim como os sérvios da Bósnia, negam a independência de seu país da Iugoslávia e querem se unir à Sérvia. Eles dominam um território na Croácia que denominam "República Sérvia da Krajina e são combatidos pelos croatas.
A guerra na Croácia começou em 1991, e a da Bósnia, em 1992.

Gorazde
O encrave de Gorazde continua sob fogo sérvio. Ontem, o governo local recebeu um ultimato para a rendição, o que foi considerado um blefe em nota do Departamento de Estado dos EUA.
Segundo os EUA que se baseiam em dados dos aviões de espionagem não tripulados Predator, não há uma concentração de tropas e tanques suficiente para que os sérvios invadam e tomem Gorazde.

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