São Paulo, sexta-feira, 21 de julho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Perigos da massificação

MARCOS SANTOS FERREIRA

Por meio da massificação esportiva, o governo FHC pretende priorizar o esporte de base, em detrimento do esporte de rendimento (Folha - Esporte, 25/12/94). Dentre as medidas para atingir tais objetivos, o governo estuda a realização de olimpíadas para menores carentes.
Inicialmente, é importante que o governo deixe claro o que pretende com essa massificação, que pode assumir diferentes contornos. Sendo feita através de competições (olimpíadas), ela pode estar, indiretamente, a serviço do esporte de rendimento.
A vitória, principal objetivo da competição, só pode ser obtida por uma minoria bem dotada, à qual fica restrito o prazer com a atividade esportiva.
A rigor, a massificação esportiva calcada na competição acaba por levar os mais aptos a continuar no esporte e os menos aptos, que constituem a maioria, a se afastar dele.
Trabalha-se com a quantidade para se extrair a qualidade. É o que fazem as escolinhas e os centros de treinamento dos grandes clubes. Por eles, passam milhares de crianças, das quais apenas algumas dezenas são aproveitadas.
Na realidade, uma massificação desse tipo presta-se a selecionar expoentes. Portanto, se o objetivo é o envolvimento do maior número possível de pessoas, as estratégias do governo revelam-se equivocadas.
Por outro lado, a idéia da massificação esportiva é ampliada quando se pensa na massificação da prática de exercícios físicos. Nesse caso, objetiva-se a adoção de estilos de vida ativos pela população.
A massificação deixa de servir ao esporte de rendimento e passa a servir ao lazer. Envolve manifestações de nossa cultura corporal, como capoeira, danças e jogos populares. Reconhece a competição como elemento inerente à prática esportiva, mas combate sua exacerbação.
Considera as aulas de Educação Física na escola, pelas quais teoricamente passam todas as crianças, uma instância privilegiada para a popularização da prática esportiva e do exercício físico.
Valoriza o profissional de Educação Física, que é o único habilitado para o ensino do esporte e do exercício em bases científicas.
Discute os determinantes sócio-político-econômicos da prática esportiva, tais como a quantidade e a qualidade de espaços públicos a ela destinados, e o tempo para o lazer de que dispõe a grande massa trabalhadora. É, enfim, popular, crítica e democrática.

Texto Anterior: Juiz do AM determina suspensão do telesexo
Próximo Texto: Alagoas lança sistema de ``telefone virtual"
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.