São Paulo, sexta-feira, 21 de julho de 1995
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Médicos opinam sobre uso terapêutico

PAULO SILVA PINTO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os ministérios da Saúde e da Justiça vão consultar os oncologistas do país (médicos que tratam de câncer) antes de decidir sobre a liberação de uma das substâncias ativas da maconha, o THC (Tetrahidrocanabinol), para uso terapêutico.
O secretário Nacional de Vigilância Sanitária, Elisaldo Carlini, disse ontem em um simpósio sobre o tema, no Ministério da Saúde, que a consulta aos médicos acontecerá durante um congresso de oncologia em outubro em Belo Horizonte, com cerca de 600 participantes previstos.
O ministro Adib Jatene (Saúde) poderia liberar a substância com uma portaria, mas não vai tomar a decisão antes de ouvir os oncologistas. ``Queremos que o assunto seja discutido pela sociedade", disse na abertura do simpósio.
Não está em discussão a liberação de cigarros de maconha. O THC só seria consumido dentro de hospitais, em cápsulas gelatinosas, por pessoas que fazem quimioterapia contra câncer. O único efeito terapêutico do THC comprovado pela ciência é eliminar vômitos e náuseas, efeitos colaterais da quimioterapia.
Há hipóteses de que traga benefícios em caso de glaucoma e epilepsia, que estão sendo estudadas.
A bibliografia da homeopatia (farmacologia baseada em extratos de plantas hiperdiluídos) também menciona utilidades da maconha, mas sem chancela acadêmica.
Carlini é a favor de que o THC seja autorizado para o uso médico. ``É uma posição pessoal. Não há posição oficial do Ministério".
O reconhecimento da utilidade terapêutica do produto pela OMS (Organização Mundial da Saúde), em 91, foi acatado pela ONU (Organização das Nações Unidas) em 1991, com o voto favorável do Brasil.
O oncologista Rene Gansl, que participou do simpósio, disse que quando o THC foi liberado nos EUA, no início dos anos 80, `àinda era competitivo, mas hoje há drogas mais eficazes e com menos efeitos adversos".
O plasil, segundo ele mais eficiente que o THC, não havia sido liberado nos EUA nesta época. Ele admite que pessoas para quem outros medicamentos trazem adversidades podem ser beneficiadas.
``Mas antes o THC era útil em 30% dos casos, hoje para menos de 1%. Acho que não se justifica a liberação", disse.

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