São Paulo, sexta-feira, 21 de julho de 1995![]() |
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Vida não precisa de significação
INÁCIO ARAUJO
A versão que a CNT/Gazeta programou para hoje (às 23h) é uma remontagem expandida do episódio. O essencial permanece. Um jovem mata com frieza exemplar e sem nenhum motivo um motorista de táxi. Seguem-se os procedimentos legais, em que o rapaz é acompanhado por um advogado. O ponto essencial de apoio do filme é, precisamente, sua ausência de apoios. Por que o rapaz mata? Não sabemos, no início. Não saberemos, no final. Seus atos são impermeáveis à análise, à explicação. Só podem ser descritos. Isso cria uma fricção com o espectador que, com justa razão, poderá se sentir irritado. Nosso mundo é feito para que os atos sejam explicados, catalogados de alguma forma. Em contrapartida, existe a possibilidade da morte legalizada pelo Estado. A pena de morte é uma ameaça que paira sobre o rapaz. E, também nesse setor, Kieslowski nos priva de explicação. Nada constitui justificação. Basta ver, a horas tantas, o funcionamento do mecanismo de morte legal (o carrasco, seu maquinário, os cuidados que toma), para percebermos o tipo de olhar (religioso) que o diretor imprime ao seu filme. A vida e a morte se passam de sentido. A existência justifica-se por si mesma. Daí seu caráter sagrado. Daí o filme constituir uma bela postulação da impotência humana face a Deus. (IA) Texto Anterior: Pague à vista ou então a perder de vista Próximo Texto: Festivais encenam `star system' erudito Índice |
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