São Paulo, sábado, 22 de julho de 1995
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Crianças de rua de SP denunciam envolvimento de PMs com tráfico

DA REPORTAGEM LOCAL

Reportagem Local
Policiais militares estão sendo acusados de extorsão por meninos de rua que traficam e fumam crack em regiões centrais de São Paulo. Sete deles contaram já ter entregue dinheiro ou droga para os PMs.
``Eles pipavam o crack ali perto da gente", disse C.L.S., 17, que vendia a droga junto à Estação da Luz. ``Se não tinha dinheiro nem droga, batiam na gente."
P.S., 15, diz que vendia ``pedras" em vários pontos do centro. ``Quando a polícia pegava a gente, pedia até R$ 2.000. Eles davam um tempo até o traficante arrumar a grana. Aí soltavam a gente."
A.S.B.N. afirma que já fez vários acertos com PMs. ``Eles chegavam e iam pedindo. Se tinha dinheiro ou droga, soltavam você."
A menina P.S.R., 15, disse que só era levada para a delegacia quando não tinha nem dinheiro nem droga. ``Olhavam para mim e diziam, `sai com a gente que a gente libera você'. Eu falava não e então eles tomavam a droga."
A PM diz que não há nenhuma denúncia formal sobre policiais que extorquem menores ou usam drogas. ``Se alguma denúncia for feita, será investigada pela Corregedoria da PM", diz o coronel Roberto Lemes, diretor de Comunicação Social da PM.
O tenente-coronel Wilton Indalésio, chefe do CASRJ -centro de assistência social da PM-, diz que o uso de droga é falta disciplinar grave. Os policiais pegos em flagrante são presos e afastados. Já o álcool é tratado como problema de saúde e os PMs acompanhados.
Os menores recolhidos nas ruas são levados para o SOS Criança da Secretaria da Criança, Família e Bem-Estar Social.
É aí que se constata o aumento rápido do uso do crack entre meninos de rua. Dos cerca de 50 menores que passam todos os dias pelo SOS Criança, pelo menos 80% usaram ou usam crack.
O ``barato" do esmalte e da cola de sapateiro foi substituído pela cocaína fumada.
Três anos atrás, pesquisa do Cebrid -centro de estudo em drogas da Escola Paulista de Medicina- revelou que 35% dos meninos conheciam o crack.
``Hoje são 80%", afirma Paulo Vitor Sapienza, diretor do SOS.
Ele acredita que tratá-los com confiança e atribuir-lhes funções pode afastá-los da droga. Cerca de 80 menores estão passando parte do dia trabalhando no SOS.
``É a primeira vez que estamos dando a devida importância para as drogas", diz a psicóloga Célia Regina Silveira de Salles.

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