São Paulo, sábado, 22 de julho de 1995
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Temporada de verão já tem seu quem-é-quem

ERIKA PALOMINO
COLUNISTA DA FOLHA

Muita gente torceu o nariz para esta quarta edição do Phytoervas Fashion. Com a saída dos estilistas Alexandre Herchcovitch, Walter Rodrigues e Fause Haten de seu elenco de participantes, era bem palpável a sensação de esvaziamento e flop.
Mas, como nas edições anteriores, este Phytoervas de verão serviu para definir o quem-é-quem da moda -ao menos para esta temporada. Os darlings se fizeram.
Entre os estilistas, é unânime o aval em torno do nome de Jeziel Moraes, que ganhou a simpatia de todo mundo ao encher a passarela de bofes urbanos, contemporâneos e fashion que evitaram a síndrome do desfilão de Kaufmann de 94.
Suas armas: coerência de estilos e formas dentro da coleção; os sapatos executados por Fernando Pires, a trilha sonora fora dos padrões da dance music (já clássico de JK) e um dos melhores castings entre os nove desfiles do evento.
Eduardo Ferreira é o estilista pernambucano que parece ter sido escolhido pela comissão do Phytoervas para ocupar o lugar das artesãs da Rocinha (Coopa-Roca) foi bem além de seu papel.
Não tentou ``crossovers" entre o fashion e o regional. Ou seja: ao contrário da primeira coleção ``brasileira" da Forum, não fez tendência com estampa de chita barata, por exemplo. Fez peças da chita mais barata em grandes vestidos com horríveis tops feitos de luvas de forno estampadas com peixe. Tão absurdo que é lindo.
Agora é ver como é que ele sai dessa armadilha. Sugestão: explorar em peças usáveis -vendidas em SP- seus hypes como a estampa de caranguejo e a padronagem Keith-Haring-do-sertão que apareceu nas saias, mais o excelente crochê.
Annelise de Salles é o momento sorriso do evento. Afinal, é jovem (23 anos), estudou em faculdade de moda, não copia e evolui a cada desfile que faz.
Já demarca as características de seu trabalho (cartela de cores; sutileza de tons; delicadeza nas formas; romantismo) e trabalha aparentemente à vontade dentro de seu universo pessoal. Olho nela.
Fabiana Mortari tomou o mesmo caminho certo -escolher um objeto de trabalho (a latinidad) e investir. O resultado é de gosto duvidoso, mas tem consistentes acertos na combinação das cores, no acabamento, em algumas silhuetas e algumas formas (tente imaginar as roupas sem tantos babados).
Yamê Reis parece sofrer de uma certa síndrome Cia. do Linho. Quer fazer tudo, meio afoita. E no que faz de anos 60 Inacio Ribeiro já era melhor há um ano.
Marita de Dirceu vem ainda à frente de Ana Bento. Mas tem bordados demais e não convence ninguém de que aquilo não é cafona. Por sua vez, Bento precisa deixar de achar a moda engraçada dessa forma. Graça se faz com inteligência e cinismo fashion (leia-se Gaultier ou Galliano), não com frases bobas numa t-shirt Hering.

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