São Paulo, sábado, 22 de julho de 1995
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Guerra fiscal; Projeto Cingapura; Marcio Thomaz Bastos; Curvas assassinas; Ética, vergonha e futebol; Tradutores; Ernest Mandel; A linguagem dos advogados

Guerra fiscal
``Gostaria de registrar o lamentável equívoco do jornalista Josias de Souza, que, na edição de ontem, sob o título `Abaixo São Paulo', atribui aos amapaenses o adjetivo de invejosos em relação à situação econômica do Estado de São Paulo. Desnecessário lembrar que a pobreza da região amazônica torna imperiosa a nossa tentativa de ingressar na já deflagrada guerra fiscal promovida pelos Estados do Sudeste, com o objetivo precípuo de atrair investimentos que, com certeza, atenuarão problemas sociais que o governo federal, ao longo dos anos, não vem solucionando. Paradoxal é que o nobre jornalista afirma termos inveja de um Estado que `é uma potência decadente', além de dizer que `Mário Covas não é governador, é síndico de uma massa falida'. O Amapá tem orgulho deste Estado que é a mola mestra da economia nacional. E temos certeza de que o governador Mário Covas, com a competência que lhe é peculiar, colherá para São Paulo melhores adjetivos."
Sebastião Rocha, senador pelo PDT-AP (Brasília, DF)

Projeto Cingapura
``Em reportagem publicada no caderno São Paulo (19/7), o secretário municipal de Habitação afirma que minhas declarações a respeito do Projeto Cingapura são sem fundamento. Felizmente essa não é a opinião da Delegacia de Defesa do Consumidor (Decon), que, a partir de denúncia minha, instaurou inquérito para averiguar irregularidades na venda de apartamentos situados em terrenos públicos, bem como a existência de propaganda enganosa por parte do poder público municipal. O secretário também deve ter-se esquecido: 1) da suspensão da primeira licitação e de minha denúncia ao Ministério Público uma vez que essa concorrência infringia a atual Lei das Licitações, concentrando as obras ao interesse de uma só empreiteira; 2) que, das 5 empresas contratadas pela Prefeitura de São Paulo para a execução de obras nas 26 favelas, 4 estavam envolvidas no esquema de financiamento da campanha de Maluf em 92, conhecido como `Paubrasil'; 3) que solicitei no dia 16 de março cópia dos planos de financiamento e do contrato firmado com os moradores dos apartamentos do projeto e anunciados pela imprensa, sendo que até a presente data o secretário nada me encaminhou."
Aldaíza Sposati, vereadora de São Paulo pelo PT (São Paulo, SP)

Marcio Thomaz Bastos
``A respeito das observações formuladas pelo ilustre advogado Arnaldo Malheiros Filho, no caso envolvendo os drs. Marcio Thomaz Bastos e Cyro Kusano, cumpre-nos esclarecer que, como advogado, reconheço o trabalho que sempre desenvolveu o dr. Thomaz Bastos, como de sorte também reconheço que o dr. Cyro Kusano é digno de nossos maiores tributos, quer como advogado de grande talento, quer por sua dedicação à profissão, quer ainda por sua integridade moral. É por isso que as observações do dr. Malheiros pecam pela superficialidade, e, estando a questão posta para decisão do Poder Judiciário, rompe o ilustre causídico preceito constitucional dos mais elementares, que é o princípio da inocência, como pedra angular do estado de Direito. Ao fazer comentários de matéria que será objeto judicial e trazendo acusações como se fossem circunstâncias definitivas, o dr. Malheiros desinforma. O dr. Thomaz Bastos efetivamente não precisa de defesa deste jaez."
José Pascoal Pires Maciel (Presidente Prudente, SP)

Curvas assassinas
``Em Cingapura, um engenheiro faz tráfico de droga e é enforcado. No Brasil, engenheiros fazem uma droga de tráfego e são premiados, paparicados e rotulados de luminares especialistas de alto saber. Seu erro crasso mata e fere muitos inocentes. Embora eu tenha consertado nove curvas (assassinas) de São Paulo, só tenho recebido desaforos. O prefeito Paulo Maluf me recebeu em janeiro de 94 e determinou que fossem feitas oito concorrências para o conserto -sob minha orientação grátis- das 40 curvas de alto risco da cidade em julho de 94. Já estamos em julho de 95. Pressinto que os consertos vão ficar para as calendas. Enquanto isso, dois carros caíram do `Minhocão' no último dia 8. Vamos esperar que cem carros caiam do `Minhocão' para então consertar as duas curvas catapultas do vôo livre? Qualquer ginasiano sabe que a falta de sobrelevação joga o carro para fora e causa acidentes. Será que só os engenheiros do Brasil desconhecem a lei da inércia e a força da gravidade?"
Ardevan Machado, doutor em engenharia (São Paulo, SP)

Ética, vergonha e futebol
``O artigo de Matinas Suzuki Jr. `Caudilhismo de Passarella' me fez refletir, em especial sua análise sobre a personalidade de Passarella, um jogador violento, prepotente, desleal. Muitos desses `machos argentinos' idolatram e apóiam inimigos da democracia e da liberdade, como Rico, que, quando estava à frente da seleção, impôs a todos os jogadores o corte de cabelo como critério de exclusão e, como isso é `tão importante' para jogar futebol, acabou eliminado do primeiro torneio europeu que disputava, perdendo para a Dinamarca -Andersen e companhia jogavam muito bem, além de terem abundantes cabeleiras. Até aqui tudo bem, `pero no mucho'. Deparo-me com Alberto Helena Jr. e a vergonha de ganhar deslealmente. A omissão da imprensa brasileira é imperdoável. A referência mesquinha à mão de Maradona é um erro de comparação e um péssimo exemplo para as gerações de leitores, admiradores, torcedores e pensadores que tanto Brasil como Argentina precisam formar para sair do poço. Em nossos países não faltarão exemplos (maus) de como uma mão pode fazer ganhar (ou perder, depende do ponto de vista) uma chance de viver eticamente. Em nossos Congressos também uma mão -brasileira- salvou os deputados do escândalo do Orçamento de serem punidos exemplarmente, outra mão -argentina- salvou os militares responsáveis pelo horror com o indulto. E, no elevador do prédio onde moro, um garoto de uns nove anos me perguntou: `E aí, argentino, gostou do gol do Túlio?'. Eu falei: `Foi com a mão!'. E ele: `Não interessa, o Brasil ganhou!'. E eu pensei: `Que futuro nos espera...'."
Luis Enrique Aguilar (Piracicaba, SP)

``Provérbio da semana: `Quem com mão fere, com braço será ferido'."
Walderez Teixeira (Umuarama, PR)

``Hipocrisia ou frescura mesmo do `poeta' Alberto Helena Jr.? Vergonha nacional por quê? Por acaso o Brasil não merecia o empate com a Argentina? Por acaso o juiz ou os bandeirinhas eram brasileiros? Quantas finais importantes tiveram seus resultados modificados por erros claros de juízes? Futebol é para o mortal comum, não para intelectual com ares de santo!"
Dorinato Gomes de Lima (Santos, SP)

Tradutores
``Não se deve confundir coragem com leviandade. Marilene Felinto, em seu artigo do dia 16/7, comete um ledo engano ao acusar revisores, tradutores e redatores de `covardes'. Alguns dos melhores poetas e romancistas deste século ganharam a vida nessas áreas e nem por isso podem ser considerados `covardes'."
Eduardo de Farias Lima, tradutor (São Paulo, SP)

Ernest Mandel
``O mundo perde um de seus teóricos políticos mais dignos e coerentes. A análise de Ernest Mandel era atual e consistente, coisa rara na atual conjuntura internacional. Viva a 4ª Internacional!"
Adolfo Alves Ferreira (São Paulo, SP)

A linguagem dos advogados
``Merece repreensão o sr. Gilberto Dimenstein por afirmar, de modo infeliz, que os advogados escrevem `com aquela linguagem incompreensível, rebuscada, pretensiosa e esnobe' (Mais!, 16/7). Não é difícil entender que, quanto mais se generaliza, mais se erra. Os erros -principalmente os gratuitos-, ao contrário da verdade, devem ser economizados."
Márcio Medeiros Furtado, advogado (São Paulo, SP)

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