São Paulo, domingo, 23 de julho de 1995
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Estados disputam investimentos iguais a 40 fábricas da Volkswagen de Resende

CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

No mínimo, no mínimo, US$ 10 bilhões. É essa a quantia em disputa pelos Estados por meio de isenções de impostos, a chamada ``guerra fiscal".
Chega-se a esse mínimo dos mínimos somando expectativas de dois dos grandes pólos de investimento estrangeiro no Brasil, Estados Unidos e Alemanha.
``Só de projetos que vi, prontos, são US$ 6 bilhões", afirma Henrique Meirelles, presidente da Câmara Americana de Comércio.
Como Meirelles não vê todos os projetos de empresas norte-americanas, ele próprio calcula que os investimentos previstos devem superar os U$$ 6 bilhões.
``Quando vejo o potencial das mil empresas de origem alemã instaladas no Brasil, minha percepção é a de que virão entre US$ 4 bilhões e US$ 6 bilhões", calcula, por sua vez, Werner Ross, presidente da Câmara Brasil-Alemanha.
Falta uma previsão apenas dos japoneses. ``Muitas firmas manifestam interesse, mas não há um estudo global sobre investimentos", depõe Kohei Denda, presidente da Câmara Japonesa de Comércio.
Falta ainda computar investimentos de empresas nacionais. Mas, mesmo que sejam apenas US$ 10 bilhões, já corresponderiam a 40 fábricas como a que Volkswagen decidiu instalar em Resende (RJ), no mais recente episódio da ``guerra fiscal".
O suficiente, portanto, para pôr uma Volks e meia, como a de Resende, em cada uma das 27 unidades administrativas brasileiras.
O que reativou a ``guerra", já antiga, foi a mudança no cenário internacional de investimentos.
Eles ficaram praticamente estancados, para os países em desenvolvimento, durante os anos 80. Depois, explodiram.
Na América Latina e Caribe, o investimento direto, ou seja, em fábricas e equipamentos, pulou de US$ 26,7 bilhões em 90 para US$ 77,9 bilhões em 94.
Um salto, portanto, de 191%, conforme relatório do Banco Mundial divulgado no início deste ano.
A essa tendência global, acrescente-se um fato local: o início do processo de estabilização da economia brasileira a partir de julho de 1994.
``O empresariado japonês faz política de longo prazo e uma economia não-estabilizada dificulta o planejamento de longo prazo", explica o presidente da Câmara Japonesa de Comércio.
É um raciocínio que vale para investidores de qualquer nacionalidade.
Com ou sem ``guerra fiscal", o mais lógico é que os novos investimentos se dirijam para as imediações dos grandes centros consumidores.
Vale a respeito o raciocínio que Pacífico Paoli, presidente da Fiat do Brasil, faz a respeito de Brasil e Argentina na área automobilística.
Entre os Estados brasileiros, a distribuição tende a ser a mesma. Ou seja, os grandes parques industriais já instalados atrairão mais investimentos, ainda que os Estados não-industrializados ofereçam incentivos fiscais mais atraentes.
``Por mais incentivo que o Ceará dê, jamais vai tirar a Volkswagen de São Paulo ou a Peugeot de Santa Catarina", admite o governador cearense Tasso Jereissati (PSDB).
A ``guerra" fica, portanto, restrita a nichos especializados, nem por isso menos suculentos. Na semana passada, o Ceará garantiu investimentos totais equivalentes a quase uma Volks de Resende (entre US$ 200 milhões e US$ 250 milhões).
Esses recursos, em vez de saírem de uma só empresa, estarão espalhados por 42 indústrias de médio e pequeno porte.

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