São Paulo, domingo, 23 de julho de 1995
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Quem investe menospreza incentivos

CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

Se quem recebe investimentos dá tanta ênfase aos incentivos fiscais, quem os faz minimiza esse aspecto como determinante para a localização de uma fábrica.
``Se houver incentivo, é obviamente melhor, mas não é o fator decisivo", diz Kohei Denda, presidente da Câmara Japonesa de Comércio.
Reforça Werner Ross, presidente da Câmara de Comércio Brasil-Alemanha: ``É uma visão muito curta escolher um local só pelos incentivos".
O brasileiro Roberto Teixeira da Costa (Brasilpar) vai mais longe: ``A questão fiscal é usada mais como pretexto para tentar tirar vantagem de uma decisão já tomada sobre o local do investimento".
``Tudo o mais sendo igual, o incentivo influencia", afirma Henrique Meirelles, presidente da Câmara Americana de Comércio.
O ``tudo o mais" mencionado por Meirelles acaba sendo uma extensa lista, principalmente quando elaborada pelo investidor japonês, tradicionalmente o mais cauteloso.
Kohei Denda menciona desde a estabilidade da economia até o custo da construção de uma fábrica como fatores que pesam na hora de decidir o local do investimento.
Outros fatores por ele relacionados: mão-de-obra abundante e barata, acesso à matéria-prima a um custo baixo, facilidade de importação quando não há matéria-prima local, incentivos para importação de equipamentos.
Tudo isso, só na fase de instalação da fábrica. Depois, ainda vêm os fatores que pesam quando a empresa começa a produzir.
A saber: custo portuário para eventual exportação, custo do transporte e proximidade do mercado consumidor.
Kohei Denda diz que há até uma corrente, entre administradores de empresas, que teme os incentivos porque ``viciam a administração".
Para esse grupo, ``não se deve contar com coisas que não sejam permanentes, porque, quando desaparecem, criam um problema", explica Denda.
O alemão Werner Ross também menciona a necessidade de uma boa infra-estrutura e de uma mão-de-obra qualificada, mas acrescenta outros fatores.
Um deles é a preocupação de evitar concentração. ``Onde há grandes concentrações industriais, a mão-de-obra é mais difícil de se obter", diz Ross.
O empresário alemão inclui qualidade de vida como um dos fatores novos que pesam na hora de escolher o local para investimento.
Diz que os executivos estrangeiros dão cada vez mais valor a esse item na hora de decidir.
Henrique Meirelles, da Câmara Americana, também cita infra-estrutura e mão-de-obra, mas lembra que há demandas específicas de certas empresas.
Uma delas, cujo nome prefere preservar, depende de transporte aéreo e, portanto, requeria um aeroporto próximo. A disputa era entre Curitiba e Campinas.
Curitiba estava ganhando até que a empresa descobriu que seu aeroporto ficava mais tempo fechado, em virtude do mau tempo, do que Viracopos (Campinas).
Meirelles e Werner Ross discordam, entretanto, em um ponto: o peso do sindicalismo na escolha.
Meirelles diz que o ativismo dos sindicatos do ABC paulista faz com que ``muita gente comece a evitar a região".
Afirma também que a Fiat, instalada em Betim (MG), leva vantagem comparativa sobre a General Motors de Taubaté, porque o sindicalismo de Taubaté é o mais ideológico e agrega questões políticas às discussões salariais.
Ross acha que a ausência de conflitos entre a Fiat e seu pessoal em Minas é apenas uma questão de tempo. ``Os empregados são muito novos. A eclosão de conflitos é apenas questão de tempo, até porque os conflitos fazem parte da economia de mercado", diz o presidente da Câmara Brasil-Alemanha.

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