São Paulo, domingo, 23 de julho de 1995
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Evangelização transforma presos famosos

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

Eles estão entre os mais famosos personagens da história do crime no Rio de Janeiro: Gregório Gordo, assaltante de banco e ladrão de carro, e Djanira da Metralhadora, terror dos assaltos a banco na zona oeste da cidade.
Hoje, José Carlos Gregório, 45, e Djanira Ramos Suzano, 50, têm mais do que o crime em comum: estão na cadeia, pedem redução de suas penas e, convertidos à religião evangélica, contam em livros, ainda não publicados, suas histórias de crime, castigo e arrependimento.
Djanira da Metralhadora era a mulher que, com peruca loura, óculos escuros e roupas justas, seduzia gerentes e guardas de banco antes dos assaltos. Inspirou o filme ``Lili Carabina", com Betty Faria no papel principal.
Gregório Gordo é o grande amigo do traficante José Carlos dos Reis Encina, o Escadinha, o mais poderoso do Rio nos anos 70.
Gregório esteve preso com Escadinha na Ilha Grande, nos anos 70, e participou do surgimento do Comando Vermelho -a organização criminosa que, segundo a polícia, controla o tráfico no Rio.
Foi ele que, depois de fugir da Ilha Grande, de onde ninguém fugia, voltou até lá de helicóptero, para salvar o amigo Escadinha. Foi a fuga mais espetacular que o sistema penal do Rio já viu.
Gregório Gordo e Djanira da Metralhadora só se encontraram uma vez na vida: no Hospital do Exército, em algum ano da década de setenta (nenhum dos dois é muito bom em datas).
Cumprimentaram-se do jeito que a polícia permitiu. Hoje, falam um do outro com carinho e dizem que se encontrarão de novo, agora pela religião evangélica.
Preso em Bangu 2, Gregório entrou para a Igreja Presbiteriana Brasileira e batizou-se em 1993. É o carteiro do presídio.
Djanira é da Igreja Universal do Reino de Deus. Só consegue andar com a ajuda de muletas. Duas balas alojadas na cabeça prejudicaram todo o lado direito de seu corpo. Presa desde 70, Djanira já fugiu seis vezes.
``Da última vez que eu fui presa, em 88, tomei uma bala na cabeça, ficou alojada no crânio. No hospital, os médicos disseram que eu tinha um por cento de chance de sobreviver. Todas as pessoas que estavam na sala de operação, até os policiais, se ajoelharam e rezaram por mim. Depois, continuei no hospital. Os médicos e as enfermeiras eram cristãos. Comecei a rezar e conversar com o pessoal da igreja que estava no hospital. Rezo muito. Depois disso nunca mais fugi."
Gregório, condenado a 55 anos de prisão, já cumpriu mais de um sexto de sua pena.
``A melhor coisa que me aconteceu no sistema penal foi Bangu 1 (presídio de segurança máxima). Eu tinha tempo para parar e pensar, ver a enrascada que eu estava metido. Pedi a Deus para me dar um caminho. Lembrei uma vez que eu fui recapturado e estava morrendo. Vi a minha mãe na TV dizendo `meu filho, eu não aguento mais'. Isso foi em 91. Em 93 eu me batizei. Muita gente pensa que faço isso para escapulir, mas quando eu sair e começar a trabalhar vai ser um Deus nos acuda, porque ninguém acredita em mim." O livro de Gregório tem o nome dele, ``Gregório Gordo", e será lançado pela Vinde (Visão Nacional de Evangelização).
O dela chama-se ``Dejejaine fala atrás da cortina de ferro", uma mistura do nome de Djanira com o da filha Djaine. A Folha conversou com Gordo e Djanira na cadeia (leia textos na pág. 12).

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