São Paulo, domingo, 23 de julho de 1995 |
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Governo descarta o ``choque agrícola"
BRUNO BLECHER
``Não há risco de choque agrícola (disparada dos preços), embora uma forte redução do plantio possa atrapalhar o controle da inflação", diz Guilherme Leite Dias, secretário nacional de Política Agrícola do Ministério da Agricultura. Com os armazéns cheios de grãos (o estoque oficial chega a 19,2 milhões de toneladas), a ameaça de desabastecimento é remota, na avaliação dos técnicos do governo. Além disto, com a economia aberta há sempre o recurso das importações. ``Para importar 5 milhões de toneladas de grãos, o país teria que gastar US$ 1 bilhão, que não é um quantia assustadora", calcula Célio Porto, assessor econômico do Ministério da Agricultura. Sem arriscar um número, Guilherme Dias considera inevitável a redução do plantio e também da produtividade. Sem dinheiro para custear o plantio, o agricultor deve enxugar seus custos, aplicando menos tecnologia (fertilizantes, calcário e agrotóxicos) nas lavouras. O governo, porém, não trabalha com a hipótese de um boicote. Mesmo pendurados nos bancos, os produtores dificilmente deixarão suas terras paradas. Inflação à vista ``A situação não é até confortável", rebate o economista Fernando Homem de Melo, da Fundação Instituto de Pesquisas Agrícolas (Fipe) da USP. Ele concorda que não há espaço para a explosão dos preços agrícolas, mas aposta na elevação, com possíveis reflexos sobre a taxa de inflação. ``A alta dos preços já foi iniciada na segunda semana deste mês, revertendo o processo de 31 semanas de queda", diz o economista da Fipe. Quanto ao tamanho da próxima safra, cujo plantio começa em novembro próximo, Homem de Melo prevê queda entre 5% e 10%. ``A produção vai encolher de 80 milhões de toneladas para cerca de 72 milhões de toneladas de grãos", diz ele. É uma conta matemática, segundo o economista. Com a diminuição da renda agrícola este ano, em quase R$ 4 bilhões, e a manutenção do nível de crédito, os agricultores terão menos recursos para financiar o plantio da safra de verão. Isto tende a fortalecer os preços agrícolas já neste segundo semestre do ano. ``Se o mercado acreditar que a safra será menor, vai começar a se ajustar agora", explica o economista. Texto Anterior: Giannetti não escreverá mais aos domingos Próximo Texto: Representação por empresa assusta Índice |
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